sexta-feira, dezembro 23, 2005

Crise?!

Estamos a poucos dias do Natal e há notícias que não deixam de me surpreender. Sem mais comentários, aqui vai:

“Nos primeiros 20 dias deste mês, os portugueses já levantaram no Multibanco mais de 1,3 mil milhões de euros.

Segundo o "Correio da Manhã", somados os levantamentos na Multibanco aos pagamentos nas lojas, o valor ascende aos 2,8 mil milhões de euros - números obtidos junto da Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS).

O valor dos levantamentos indica crescimento, face a igual período do ano passado, de 16%, enquanto que as compras pagas com cartão de débito subiram 9%, revela o jornal.
Nas compras com débito directo, os cartões foram usados em cerca de 40 milhões de operações. Em termos globais, os cartões foram mais usados para levantamentos na primeira semana.”


"Ainda bem" que estamos em crise e estagnados economicamente. O que seria se não estivéssemos...

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Frente a frente, lado a lado

Os debates televisivos para as presidenciais vão a meio e, sendo assim, está na altura de fazer um pequeno balanço.

Muito se tem falado sobre a fórmula encontrada entre as candidaturas e as televisões, ponto prévio: mais vale “debates”, que são quase duas entrevistas em simultâneo, que nada.

Este formato e até a colocação em estúdio, impede uma discussão mais acesa e a troca directa de argumentos, mas deixa espaço a algum esclarecimento e à visibilidade de algumas diferenças entre os candidatos.

Para já, o grande vencedor é Cavaco Silva, que, obviamente, ganha com a calma da discussão, com a limitação dos tempos e com as dificuldades económicas do país que lhe permitem realçar as suas qualidades enquanto economista.

Se havia dúvidas quanto ao “profissionalismo” do professor, o final do debate de ontem com Jerónimo foi paradigmático: primeiro, ainda em estúdio, lembrando o “Olhe que não, olhe que não”, de Álvaro Cunhal, o que lhe permitiu “sair” de um ataque e, depois, já cá fora, exemplar a forma como Cavaco “se fez” à câmara da SIC, enquanto respondia ao repórter, sempre em andamento.

Cavaco Silva parece ter “o controlo do jogo” e estar a “gerir” bem os resultados das sondagens.

A maior desilusão, até agora, é Manuel Alegre. O poeta, o mais inexperiente nestas andanças, parece tenso e pouco à vontade, inadaptado às câmaras, hesitante em algumas respostas.

O “independente” socialista tem que se soltar e ir além da estratégia de “vitimização”, de que terá sido alvo por parte do PS, e do “trunfo” de ter uma candidatura que não está ligada a nenhum aparelho partidário.

O debate Cavaco - Louçã terá sido o melhor até agora, talvez porque estávamos perante duas pessoas com a mesma formação, mas ainda faltam, por exemplo, os debates Soares – Alegre e Cavaco – Soares.

Posto isto ficam duas perguntas no ar: estes debates servem para alterar opções de voto? Será que vai haver segunda volta?

Cada vez me parece mais improvável (resposta às duas perguntas).

Indemnizações

Depois da decisão do Tribunal da Relação de não o levar a julgamento, Paulo Pedroso vai processar os responsáveis pela investigação do “processo Casa Pia”.

De recordar que o ex-deputado foi acusado de 23 crimes de abuso sexual no âmbito deste caso e esteve em prisão preventiva quase cinco meses.

Não vou falar deste caso especificamente, este é só o ponto de partida que se aplica, ou deve aplicar, em minha opinião, a todas as situações idênticas, sejam elas mediáticas ou não.

Vejo-me obrigado a concordar que uma pessoa, qualquer que seja, exija uma indemnização ao Estado ou a alguém em particular se se provar que, afinal, esteve injustamente detida.

A investigação deve ser feita com toda a liberdade, isenção e rapidez e, depois, quando se passar à fase seguinte tem que haver certezas.

A lei permite um conjunto se opções, antes de se chegar à prisão preventiva, que deveria impedir que algum arguido fosse detido preventivamente sem o mínimo de garantias.
Quando há erros… alguém tem que pagar, alguém tem que minimizar as

domingo, dezembro 04, 2005

Só?!

Saiu esta semana, num jornal da nossa praça, mais uma informação importante e que vem comprovar como se fazem as coisas no nosso país.

Sem mais comentários, apenas faço “copy-past” do título:

“Emprego: 28 por cento do emprego que é criado em Portugal é através de cunhas”

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Contra a SIDA…


Portugal já perdeu mais de seis mil pessoas para a SIDA, segundo dados do Centro de Vigilância Epidemiológica das Doenças Transmissíveis, do Instituto Nacional Ricardo Jorge.

Até ao dia 30 de Junho deste ano, 22 anos depois dos primeiros registos da patologia, foram contabilizados 27013 casos no País.
Segundo os dados do CVEDT, entre 1983 e 2005 foram identificados 12210 casos de SIDA em Portugal, dos quais mais de cinco mil na área de Lisboa, 2716 são do Porto e 1685 de Setúbal.

O número de mortes representa cerca de 50% do número de casos diagnosticados. Há ainda a registar 12355 de seropositivos e quase 2500 doentes com patologias associadas à imunodeficiência, mas aos quais ainda não se atribui a designação de Sida - casos sintomáticos não-Sida.

Já a ONUSida, das Nações Unidas dedicado ao combate à epidemia, revela que Portugal é o segundo país europeu com mais altas taxas de infecção com o HIV - 280 novos casos por milhão de habitantes. Em cada milhão de habitantes, há 80 que são diagnosticados quando já sofrem de sida, ou seja, só descobrem a doença muitos anos depois de terem sido infectados.

Só em 2004 foram diagnosticados 642 novos casos.

E isto é só em Portugal, em África, por exemplo, a situação é muito (muito) pior com 2/3 dos portadores mundiais.

Vale a pena pensar nisto… no Dia Mundial de Luta contra a SIDA.

Paguem...

Esta é mais uma daquelas situações em que eu tenho vergonha de viver neste país que, mais uma vez, parece um sítio (mal frequentado).

Vai ser repetido o julgamento do caso de uma criança que morreu (depois de cair numa estação de esgoto que estava destapada), no Seixal, porque algumas gravações de testemunhos estão inaudíveis.

O caso foi julgado há apenas quatro meses e condenou a autarquia a pagar uma indemnização de 250 mil euros à família da criança.

Colocados os dados em cima da mesa, há duas situações que me enojam:

Primeiro, como é que uma autarquia tem o descaramento e a suprema lata de interpor recurso numa sentença como esta. Vai obrigar a família a voltar a tribunal, a reviver o acidente, só na esperança de pagar uns tostões a menos de indemnização.

Segundo, como é possível que uma sentença seja anulada só porque os tribunais não têm condições de gravação.

Como é possível? Ainda queremos nós fazer parte do “pelotão da frente” dos países civilizados.

Francamente, tenham vergonha.

quarta-feira, novembro 23, 2005

A verdade da mentira

Apesar de ter um “poeta Alegre” e um “filósofo Sócrates” esta novela é bem triste e reveladora do carácter dos nossos políticos.

Só para que conste estamos a falar de um deputado, vice-presidente da Assembleia da República, e do Primeiro-ministro do país e, que não haja dúvidas, um dos dois “artistas” está a mentir.

Manuel Alegre garante que falou várias vezes com Sócrates para ser o candidato apoiado pelo PS à presidência da República, depois das recusas de Guterres e Vitorino.

O secretário-geral dos socialistas desmente Alegre e diz que só falou com o deputado para este apoiar Soares.

Entretanto, Mário Soares diz que não tem nada a ver com este “imbróglio” e que o “caso” não é com ele, afirmando só que “não é, nem nunca foi traidor”.

Não sei quem tem razão nesta lamentável “estória”, a única certeza é que – como já disse - alguém está a enganar os portugueses e isso é muito grave.

É incrível como três destacados elementos do mesmo partido dão este triste espectáculo que, para além de ser tudo menos dignificante, só dá trunfos ao adversário.

Qualquer pessoa que pense votar em Alegre ou Soares para Belém pode, depois disto, pensar: “Mas se estes gajos mentem uns aos outros e não se entendem, como é que vão servir para a presidência da República?”

Será que Portugal não merece uns políticos melhores?

As perguntas são legítimas e Cavaco Silva já se está a rir.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Sobe sobe, desemprego sobe

A taxa de desemprego continua a subir e o Governo, apesar da promessas, pouco ou nada faz para inverter esta tendência.

São já 430 mil as pessoas inscritas nos Centros de Emprego, o que equivale a 7.7% da população activa, o valor mais elevado desde 1998.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, comparando com o mesmo trimestre de 2004, o número de desempregados cresceu 14,4% entre Julho e Setembro.

Estes são números preocupantes, diria mesmo alarmantes, especialmente se acrescentarmos que uma boa parte destes são jovens licenciados à procura do primeiro emprego.

Estranho mais uma vez que, ao mesmo tempo que se diz que o nosso país tem um atraso na formação, não se aposte, precisamente, em pessoas formadas.

Mais extraordinário ainda é que, agora, oito meses depois de ter tomado posse, o ministro do Trabalho venha dizer que “vai tomar medidas” e que é preciso que “os centros de emprego se aproximem dos desempregados”.

Vieira da Silva acrescenta que “não é o Estado que cria postos de trabalho” (!)

Queria só aproveitar para lembrar uma das promessas de José Sócrates em plena campanha eleitoral: criação de 150 mil empregos e 25 mil estágios para jovens.

Desculpem, devo ter sonhado...

segunda-feira, novembro 14, 2005

Portugal maior

Cavaco Silva entrou este domingo na pré-campanha para as presidenciais de Janeiro e apanhou o primeiro “banho de multidão”.

O candidato abriu hostilidades, obviamente, no “Cavaquistão” (Viseu), “território amigo”, para se ir ambientando à “luta”.

Esta "aparição" é notícia porque foi a primeira e porque Cavaco deve limitar as intervenções ao mínimo e fugir o máximo a debates – truque habitualmente utilizado por quem está na frente das sondagens.

Bom, mas isto são contas de outro rosário…

Este “post” surgiu simplesmente porque me lembrei do slogan de campanha de Cavaco Silva: “Portugal Maior”.

Partindo do princípio que não é uma gralha, confesso que esta frase me faz uma certa confusão (para não dizer outra coisa).

Este slogan remete para o tempo da outra Senhora, as tendências expansionistas do Império, ou, noutro âmbito, o Portugal dos “maiores”, que esquece quem mais necessita.

Posso, obviamente, estar enganado e não ser nada disto que a frase quer dizer ou tem subentendido, mas lá que parece, parece.

Eu, por mim, não quero um Portugal maior, quero um Portugal Melhor, mais solidário, mais eficaz, menos corrupto.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Quanto pior… melhor

Os políticos devem tomar as decisões que acham correctas para o país, muitas vezes, baseadas em estudos, pagos a peso de ouro.

Obviamente que os governantes não são obrigados a seguir os resultados dessas análises. No entanto, no caso de isso não acontecer, tem que haver razões fortes.

O que não deve e não pode acontecer é encomendar estudo atrás de estudo até que este dê o resultado que nós “gostamos”.

É, exactamente, para isso que servem os estudos: para se avaliarem as situações e, depois, deixar aos governantes a decisão final, supostamente a melhor para o país.

Vem isto a propósito de um estudo da Direcção Geral de Saúde, baseado em dados de 2003, que confirma que, salvo raras excepções, os hospitais-empresa são menos eficientes que os outros.

Ora, acontece que, apesar deste resultado, o modelo dos hospitais-empresa é o que também vai ser seguido por este Governo.

O que é incrível é que, sabe-se agora, devido ao resultado “madrasto”, afinal, este estudo não era para revelar… malditos jornalistas.

Pior, descoberta a fuga, o Ministério da Saúde vem desvalorizar e garante que, afinal, o importante será outro estudo encomendado a um economista, que se espera em Dezembro.

Porque raio estamos a insistir numa "fórmula" que, diz a DGS, não é o mais eficaz? Há alguém a ganhar muito com isto, seguramente. Eu cá tenho uma ideia de quem é.

Ficam as perguntas: se este novo estudo tiver a “coragem” de dar um resultado semelhante a este da Direcção Geral de Saúde, o que vai o Ministério fazer? Esconder o documento e encomendar outro? Assobiar para o ar? Mudar de política em relação aos hospitais?

Tem a palavra o ministro Correia de Campos…

domingo, novembro 06, 2005

“Escumalha”

Foi assim que o ministro do Interior qualificou os indivíduos que têm provocado os distúrbios graves em França.

Tudo começou depois da morte de dois jovens que fugiam à polícia e saiu do controlo das autoridades depois do comentário do senhor Nicolas Sarkozy.

Pela 10ª noite consecutiva, em várias cidades francesas, incluindo a capital, centenas de carros têm sido incendiados diariamente e dezenas de pessoas detidas.

Milhares de polícias já estão nas ruas e há quem peça a intervenção do Exército.

Será que a “entrada em cena” do Exército não vai piorar a situação em França? Será que esta crise não pode alastrar a outros países? O que fazer com a maioria destas pessoas que está ilegal e/ou vive em condições sub-humanas?

Entretanto, o Presidente Chirac e o Primeiro-ministro Villepin tentam colocar água na fervura, mas Sarkozy não cede.

Não estará na altura deste ministro colocar o lugar à disposição?

Mão cheia de nada

Como já aqui escrevi, Portugal é o país da UE que tem maior diferença entre ricos e pobres. Para além disso, tem dos mais baixos salários mínimos dos “25”.

Vem este ponto de ordem a propósito da inacreditável e inaceitável reacção do Primeiro-ministro do Governo, dito, socialista à proposta da CGTP que, recorde-se, defende a subida do ordenado mínimo até aos 500 euros em 2010.

José Sócrates considera “absolutamente demagógica e fantasista” esta proposta.

Convém relembrar ao senhor Primeiro-ministro socialista (!) que, actualmente, o salário mínimo são 373.6 euros (menos de 75 contos) e que, a ser aprovada, a proposta da central sindical implicava um aumento de cinco (5) mil escudos anuais.

Não digo que esta medida não implicasse um grande esforço por parte do Estado, concordo que sim, acontece que era apenas necessário mudar as prioridades.

Em vez de se passar a vida a mudar administrações de empresas públicas, a contratar assessores atrás de assessores, a desperdiçar dinheiro com viagens de Falcon ou a comprar submarinos, etc, etc, etc... talvez não fosse má ideia dar dinheiro a quem precisa.

Será que é preciso recordar que há muitas pessoas em Portugal a viver abaixo do limiar da pobreza?

Como o anúncio do hipermercado, apetece perguntar: Como se consegue viver com setenta e poucos meses por mês?

Tenha vergonha senhor Primeiro-ministro.

terça-feira, novembro 01, 2005

A Democracia, segundo Rio Rio

Agora, para se falar com o senhor Presidente da Câmara do Porto, os jornalistas têm novas "directivas".

Numa intervenção sem direito a perguntas, Rui Rio anunciou que a partir de agora só dará entrevistas “por escrito, mediante critérios de oportunidade, com regras previamente definidas, evitando ou minimizando assim interpretações especulativas ou a pura manipulação das respostas".

E porque toma Rio esta atitude?

Porque, segundo o senhor Presidente da Câmara da Invicta, aos "detentores do poder, legitimados pelo voto livre e democrático" compete "procurar evitar distorções e lutar contra a perversidade, principalmente quando ela atinge uma dimensão que põe em causa a saúde do regime e a própria governabilidade do país".

Ora aqui está um “belo” exemplo de Democracia dado por um autarca eleito democraticamente pela maioria absoluta dos portuenses.

Vamos esperar para ver se este é um incidente isolado ou se vêm aí mais atitudes déspotas.

Bem dizia o slogan de campanha: “Este Rio não pode parar”.

Pois é, agora, aturem-no.

sexta-feira, outubro 28, 2005

“Alta velocidade”

Não sou técnico, nem conheço os estudos (não sei se alguém conhece) e, portanto, não sei se a Ota ou o TGV são prioridades ou, sequer, se são necessidades do país.

Para já, por aquilo que fui ouvindo, parece-me que há maiores dúvidas em relação ao novo aeroporto: pelo preço, pela localização, pelas perspectivas de desenvolvimento…

É certo que estamos em crise e que estes dois projectos obrigam a grandes (megalómanos?) investimentos públicos.

Mas também é certo que, se não for agora, nunca mais a União Europeia nos ajuda (financeiramente) nestes projectos.

Posto isto, enquanto se espera pelos estudos e pela confirmação oficial, parece que o TGV deverá ser adiado para 2015, ter duas linhas e quatro paragens: Leiria, Coimbra, Ota e Aveiro.

O que acho curioso é que o PSD continue a dizer que este projecto é despesista e megalómano. Talvez tenha razão, a questão que se coloca é que há pouco mais de dois anos (com Durão Barroso como Primeiro-ministro), os social-democratas assinaram com o Governo espanhol, na Figueira da Foz, o seu projecto do TGV que incluía não duas, mas quatro linhas.

A viragem “laranja” é grande e feita, como se percebe, em alta velocidade.

“Choque tecnológico”

Este foi uma das promessas e prioridades do Governo Sócrates e, pelos vistos, está a ser seguida pelos seus ministros.

Alberto Costa, o “senhor da Justiça”, levando as indicações do Chefe de Governo à letra, acaba de contratar (mais) uma assessora, esta, apenas e só, para renovar o site do Ministério.

Ora até aqui tudo bem, a questão é que a senhora em causa vai ganhar uma “pipa” de massa às custas de todos os contribuintes.

Segundo os dados revelados, a nova assessora de Alberto Costa vai auferir uns “míseros” 3254 euros, o que, trocado por escudos, equivale aos antigos 650 contos mensais.

Abençoado site, bendita crise.

domingo, outubro 23, 2005

Acima do nevoeiro

Não houve surpresas e Cavaco Silva confirmou, na quinta-feira, a sua candidatura à Presidência da República.

"Depois de cuidada ponderação, decidi candidatar-me à Presidência da República. Não foi uma decisão fácil. Faço-o por um imperativo de consciência", disse, obviamente, no CCB.

"Eu não me resigno" e "não me conformo com o clima de pessimismo" deste quadro e, por isso, "quero ajudar a construir um novo horizonte de oportunidades", referiu Cavaco.

Ainda bem, digo eu, que não se tomam decisões de ânimo leve e que tudo é feito depois de “cuidada ponderação”.

Apesar de prometer cumprir e fazer cumprir a Constituição (também era melhor que não o dissesse), vários pontos do seu discurso deixam entender uma forte vontade de intervir.

É, aliás, curioso que depois de, na última revisão constitucional, se ter diminuído o poder presidencial, já se fale, agora, exactamente no contrário.

Por outro lado, é incrível como o candidato está a tentar fazer passar a imagem de que não tem nada a ver com o que se passou no país. Até parece que não esteve 10 anos no Governo. Diz ele: “O passado não interessa”.

Qual “Salvador da Pátria”, Cavaco Silva foi seguido em directo pelas televisões, da porta de casa até ao CCB, como se do próprio Chefe de Estado se tratasse.

Convém recordar os mais incautos que o senhor professor ainda não ganhou as eleições e que até o “desejado” D. Sebastião foi derrotado em Alcácer Quibir.

O próprio Cavaco teve, logo no dia a seguir ao anúncio oficial, os primeiros dois deslizes: primeiro disse que “um Presidente (!) não deve reagir ao que diz o Primeiro-ministro” e depois chamou “Assembleia Nacional” à Assembleia da República.

Foram apenas lapsos ou é algo mais?

PS: Quem deve, seguramente, estar feliz são as pastelarias que vendem Bolo-Rei.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Separação de poderes…

Aproveitando a Cimeira Ibero-Americana, o Presidente da República falou com o seu homólogo venezuelano sobre o caso do piloto Luís Santos.

Jorge Sampaio terá falado sobre o processo e pedido a Hugo Chavez para interceder junto das autoridades judiciais.

É certo que este caso está “enguiçado”, o julgamento já foi adiado mais de 20 vezes, mas não parece “correcto” (para não dizer pior) que o Chefe de Estado tente meter uma “cunha”.

Numa Democracia, que Portugal e Venezuela dizem ser, seria estranho se tudo se resolvesse com a intervenção de um qualquer Chavez ou Sampaio.

Há – tem que haver – separação de poderes: à Justiça o que é da Justiça, aos Governos o que é dos Governos.

Era dispensável ter que ouvir Hugo Chavez dizer isso mesmo em declarações aos jornalistas e era também escusado termos, depois, sabido que há, cá em Portugal, vários casos iguais, semelhantes ou ainda piores que o do co-piloto da Air Luxor.

É que nós nesta matéria não somos, seguramente, exemplo para ninguém. Já se sabe que a Justiça em Portugal não funciona – e esse é um dos maiores cancros da nossa sociedade – e temos exemplos que davam para preencher uma lista telefónica.

Deixo só o último exemplo: Carlos Silvino vai ter que ser libertado em breve porque já passaram os três anos de prisão preventiva, sem que o processo Casa Pia chegasse ao fim.

Os números não mentem

Portugal é o país da União Europeia onde há mais desigualdade entre ricos e pobres.

As 100 maiores fortunas portuguesas representam 17% do Produto Interno Bruto e 20% dos mais ricos controlam 45,9% do rendimento nacional.

As estatísticas indicam que um em cada cinco portugueses vive no limiar da pobreza.

Esta é mais uma estatística que o nosso país “orgulhosamente” lidera e em que está acompanhado por um “país irmão” – o Brasil – com estatísticas semelhantes na América Latina.

É mais um alerta que fica… Mais uma vez, “vale a pensar nisto”.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Chá, café… ou laranjada

O PSD ganhou as eleições autárquicas. É indiscutível, contra “factos não há argumentos”. Há, no entanto, outras notas a realçar.

· Os portugueses foram votar para 308 concelhos e 4260 freguesias e, primeira vitória, a abstenção baixou. Faz-me sempre muita confusão quando o povo desperdiça estas ocasiões para se expressar.

· Os social-democratas reforçaram o número de autarquias “laranja”, beneficiando do habitual “ciclo local” de dois mandatos, do “cartão amarelo esperado a Sócrates e também da política de coligações.

· Marques Mendes merece, no entanto, uma nota à parte: Geriu bem a maioria dos “casos” do seu partido (à excepção de Leiria), preferindo perder Câmaras (como Gondomar e Oeiras), a vergar-se à ditadura do triunfo fácil.

· O PS perdeu muitos votos em relação às legislativas, mas, mais do que isso, perdeu Câmaras (algumas importantes, como Aveiro) em relação a 2001 e não recuperou nenhuma daquelas em que apostava (Lisboa, Porto, Sintra). Curiosamente, apesar disso, teve mais votos e mais percentagem.

· A CDU, de Jerónimo de Sousa, é, talvez, o grande vencedor da noite. Perdeu e ganhou Câmaras, com saldo positivo (tem agora 32, mais quatro) e, mais importante, recuperou a liderança da Junta Metropolitana de Lisboa.

· Ao CDS-PP valeu o perdoado Daniel Campelo, que “regressa” a Ponte de Lima com a bandeira “centrista”. Ribeiro e Castro não é, definitivamente, líder para campanhas…

· O Bloco de Esquerda subiu em relação a 2001, mas esperava-se mais. Não em termos de Câmaras, mas em termos de reforço nos grandes centros urbanos.

· Entre os “candidatos-bandidos” (Francisco Louçã, dixit), a surpresa: Avelino Ferreira Torres não ganhou Amarante, uma boa notícia. Isaltino ganhou em Oeiras e vai ter que se entender com Teresa Zambujo. Já Valentim e Fátima esmagaram. É o país que temos (mau sinal).

· A Madeira continua a ser um Jardim e 11-0 para o PSD.

· Carmona e Rio ganharam Lisboa e Porto como se esperava. Talvez, na “Invicta” se esperasse mais equilíbrio.

· Bom o discurso de Francisco Assis na derrota, miserável o discurso de Carrilho que, para além de continuar a dizer que o seu projecto (!) era o melhor para a cidade, não foi capaz de dizer uma palavra para com o adversário vencedor.

· Soares pai meteu água, outra vez, no dia das eleições e tem, novamente, a CNE à perna. Soares filho sofreu nova derrota e vai ter que ir pregar para outra freguesia.

· Nota final para o estranho problema informático que nos dificultou a vida durante toda a noite eleitoral. A esta hora que escrevo faltam apurar 14 concelhos.

· Resumindo, o país autárquico ficou ainda mais “laranja” e, surpresa, mais “vermelho”, o que quer dizer que o “rosa” ficou esbatido e perdeu à direita e à esquerda.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Os graxistas

"Venho cá dar um bocado de graxa aos eleitores" (risos) - a frase é de Ribeiro e Castro, mas podia ter sido feita por qualquer outro líder partidário ou candidato.

Descontando o tom descontraído e brincalhão do desabafo, esta declaração resume aquilo que se tem passado nestas últimas semanas de norte a sul, na luta pelas 308 autarquias do país.

Entre festas e romarias, mercados e arruadas, comícios e debates, ofertas e promessas, todos procuram o voto... dando "graxa aos eleitores".

Autarcas que se recandidatam, políticos que mudam de "equipa", caras novas e os mesmos de sempre, os "filósofos" e os "populistas", os independentes e os arguidos... há de tudo como na farmácia.

No próximo domingo, dia 9, saber-se-á quem se saiu melhor desta palhaçada geral.

O problema é que, logo no dia a seguir, começa outra "corrida" que só termina em Janeiro.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Tem cartão?!

Os anos vão passando, os Governos também, mas há “tiques” que continuam inalterados, apesar das constantes promessas.

O PS está no Executivo há seis meses, com maioria absoluta, prometeu reformas, mas continua a cometer alguns dos mesmos erros dos seus antecessores.

Dos vários que já aconteceram destaco agora um que me mete muita impressão: continua a prevalecer o cartão partidário em vez da competência.

Ainda na sexta-feira o Ministério da Cultura trocou as direcções de três institutos, sem mais.

Será que eram todos incompetentes? Quanto vão custar estas trocas?

Isto, claro, já para não falar, por exemplo, da promoção (escandalosa) de Armando Vara na Caixa Geral de Depósitos.

Já não há paciência. Alguém que pare com isto, por favor.

Fim do mundo

Seis pessoas da mesma família morreram devido a um incêndio na barraca em que viviam.

O bairro onde ocorreu mais este acidente trágico é constituído por 180 barracas, tem o nome “sugestivo” de Fim do Mundo e é na zona de Cascais.

As vítimas mortais no incêndio foram uma mulher de 39 anos e os seus cinco filhos: uma jovem de 19 anos, outra jovem de 16, uma menina de 10 anos e dois meninos de 12 e cinco anos.

Depois disto, só me apetece perguntar: Como é possível? Como é que isto pode continuar a acontecer num país dito civilizado em pleno ano 2005?

Um país não pode evoluir enquanto continuar a deixar abandonadas as pessoas que nele vivem.

A culpa é de todos...

segunda-feira, setembro 26, 2005

Contra ventos e marés

Afinal, Manuel Alegre avança mesmo com a candidatura à Presidência da República.

Continuo a achar que o deputado-poeta faz bem em "ir a jogo", por todas as razões e mais uma: tinha sido o primeiro a mostrar disponibilidade, tinha até recebido o apoio de Mário Soares e ficava-lhe, agora, mal desistir em nome da "unidade da esquerda" ou da "não divisão do PS".

Manuel Alegre é conhecido pela sua coragem política, por dizer e fazer sempre aquilo que pensa, por estar muitas vezes contra a corrente, mesmo contra o seu próprio partido (vide o processo da co-incineração de Sócrates) e este recuo na corrida a Belém não encaixava no perfil.

Não sei porque teve esta hesitação entre o primeiro discurso e o avanço confirmado no sábado, ou melhor dizendo, não sei porque, afinal, decidiu mesmo avançar.

Talvez porque esperava uma "vaga de fundo", talvez porque não gostou de algumas reacções internas ou talvez porque algumas sondagens "dizem" que, só com Alegre na corrida, Cavaco não terá maioria absoluta à primeira volta. Talvez...

Tinha ficado desiludido com a primeira decisão de Alegre. Estou, por isso, agora, contente com a segunda.

Como já disse e repito: tem o meu voto na primeira volta.

domingo, setembro 25, 2005

Locomotiva engasgada

Faz hoje uma semana que a Alemanha foi a votos, mas ainda não se sabe quem (e como) vai constituir o Governo.

A votação foi apertada e aconteceu aquilo que menos interessava na perspectiva alemã e, até, de toda a Europa.

É certo que Portugal não é exemplo para ninguém, mas a verdade é que, em Democracia, o nosso país já teve quatro tipos de Governos: maioria absoluta de um só partido, maioria absoluta de dois partidos da mesma área, coligações “contra-natura” e maiorias simples de um só partido.

Apesar das diferenças, fomos sempre sendo governados e o país (mais ou menos devagar e especialmente com a ajuda da União Europeia) foi sempre evoluindo.

A Alemanha – motor da Europa – habituado a viver com maiorias, parece indeciso sobre o que fazer.

A CDU, de centro direita, foi o partido mais votado mas o bloco de esquerda, liderado pelo SPD, tem a maioria.

Agora quer Angela Merkel e Gerhard Schroeder querem ser Chanceler e o entendimento não parece fácil.

Não parece possível um Executivo de “bloco central” e já foi dito pelos pequenos partidos de lado a lado que não se vão coligar com os grandes para fazer coligações de conveniência…

Já há quem defenda a repetição das eleições ou, talvez, uma votação a dois entre o partido da senhora Merkel e do senhor Schroeder.

Não sei como isto se vai resolver, o certo é que é, no mínimo, estranho que um país “civilizado” não consiga encontrar um Primeiro-ministro depois de eleições democráticas.

A Europa dos “25” aguarda ansiosa, quase desesperadamente, que a sua locomotiva volte a entrar nos carris e a puxar as carruagens…

Marchar… marchar

Os militares são uma categoria profissional especial que tem, por isso, direitos e deveres especiais.

Serve esta introdução para que eu diga, desde já, que sou contra a existência de sindicatos nas Forças Armadas.

É certo que o Governo mexeu nas regalias que estes profissionais tinham há muitos anos e que, obviamente, por isso, estes têm demonstrado o seu desagrado.

Agora, daí a manifestarem-se fardados ou até, quem sabe, partirem para a greve, vai uma grande distância.

Como disse, os militares não são uns “simples” funcionários públicos e, sendo assim, defendo que algumas regalias têm que ter (seguramente bons salários, boas condições de assistência e, eventualmente, menos anos de serviço), não posso é defender que venham para a rua chorar-se por tudo e por nada.

O exemplo dado pelas mulheres dos militares, para além da prova de amor entre cônjuges, é um pouco patético porque, se a moda pega, numa situação de guerra, os homens militares podem, de repente, dizer: “Ó Maria, ‘tou chateado com isto, vai lá tu dar uns tirinhos”.

As Forças Armadas são um pilar da Democracia e com isso não se brinca... Ainda não estamos num qualquer país africano que, de golpe de Estado em golpe de Estado, vai mudando de Governo e regime ao sabor do vento.

O (bom) exemplo do 25 de Abril vai ser difícil de repetir.

sábado, setembro 24, 2005

David e Golias

Muito se tem falado disto desde que o novo Governo tomou posse: medicamentos, genéricos, preços.

A polémica começou há cerca de seis meses, no discurso de tomada de posse de José Sócrates, e ainda não desapareceu das "primeiras páginas" da actualidade.

A questão geral já teve vários pontos de análise, que têm dado “pano para mangas” (especialmente a questão dos medicamentos – quais, porquê e como – a vender fora das farmácias), mas agora o último “tópico” de discussão tem a ver com o preço.

O ministro da Saúde prometeu que, a partir de Outubro, os medicamentos iriam descer 6%, enquanto os genéricos vão subir 4% (porque o Executivo termina com o subsídio aos mesmos). Obviamente que a Associação Nacional de Farmácias já veio queixar-se e, mais do que isso, acusar o Governo de estar a mentir.

Não vou aqui, até porque não tenho todos os dados, avaliar quem tem razão. Há, no entanto, algumas questões que me preocupam…

Em primeiro lugar, parece-me positivo (essencial até) que se baixem os preços dos medicamentos. O país tem dos preços mais altos da Europa e isso não é nada compatível com o nosso poder de compra.

Em segundo lugar, os genéricos são uma boa ideia, sendo mais baratos, desde que, obviamente, seja garantida a qualidade.

O que me parece um contra-senso é que haja genéricos de marca. Convém não esquecer que o que diferencia os medicamentos dos genéricos e faz descer o preço é a não existência de marca.

Por outro lado, há uma acusação que convinha esclarecer: consta que as farmácias e os laboratórios compraram todos os stocks para continuarem a negociar com os preços antigos.

Vamos ver o que vai acontecer quando terminar o período de “duplo preço”. Vamos ver quem tem mais força: o Governo ou a ANF.

quarta-feira, setembro 21, 2005

(In)Justiça

Por favor, alguém que me explique a decisão da senhora juíza que hoje libertou Fátima Felgueiras!?

Como é possível que uma senhora fuja do país, goze com todos os portugueses durante mais de dois anos e depois, quando volta, ainda seja recompensada com o desagravamento da pena a que estava sujeita?

A ex-autarca fugiu para o Brasil depois de lhe ter sido instaurada a pena de prisão preventiva no caso do “saco azul” e, agora, fica apenas com “termo de identidade e residência” e "impedimento de se ausentar de Portugal" (!).

Confesso que não sei se Fátima Felgueiras é ou não culpada no caso em que é arguida…

O que sei é que não acatou a decisão de um tribunal e fugiu, o que não é nada bom sinal. Tal como a mulher de César não basta ser séria é preciso também parecer.

Depois dos antecedentes, agora que a candidata à autarquia está outra vez em liberdade, gostava de saber se a senhora juíza dorme descansada sabendo que Fátima Felgueiras se pode pôr outra vez ao fresco a qualquer momento.

E, já agora, outra dúvida: será que os nossos impostos vão servir para colocar polícias à porta da senhora, 24 horas por dia?

domingo, setembro 18, 2005

País de “doutores”

Portugal é mesmo um país extraordinário: consegue ter mais vagas do que candidatos ao Ensino Superior.

Para o ano lectivo 2005/2006 o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior disponibilizou 46399 vagas, a que concorreram 38976 candidatos, 86% dos quais conseguiu já uma vaga.

Entretanto, os 5456 alunos que não tiveram nota para entrar poderão ainda candidatar-se à segunda fase do concurso na qual estão ainda disponíveis 12898 vagas.

É caso para dizer que o país está em crise, mas não é por falta de “doutores”. Toda a gente entra na Universidade, todos querem o canudo… o pior é depois.

A maior parte dos cursos não tem saídas profissionais compatíveis, as pessoas vão fazer coisas para as quais não estão bem preparadas ou que não gostam.

O que também acontece é que, como estão todos na Universidade, ninguém faz os trabalhos “intermédios”ou (considerados) “menores” e é aí que entram os imigrantes que, apesar de serem qualificados, só têm entrada nos trabalhos que os portugueses recusam.

O que era preciso era que houvesse um estudo sério, em larga escala, para se perceber o que realmente o país necessita para avançar e, depois, direccionar os alunos para essas áreas, seja com cursos universitários, simplesmente com cursos profissionalizantes ou com “reformulações”.

Vá lá que, agora, o Ministério do Ensino Superior faz, pelo menos, uma exigência: só entram alunos com média positiva.

É o mínimo.

sábado, setembro 17, 2005

Cheira mal… cheira a Lisboa

A pré-campanha para a Câmara de Lisboa tem já várias “pérolas”, para mais tarde recordar.

O último caso é, obviamente, o debate televisivo entre Carrilho e Carmona que, depois de trocas de insultos constantes e poucas ideias concretas, terminou com o candidato do PS a recusar o cumprimento do seu opositor.

Foi uma atitude “fina” e “civilizada” entre dois cavalheiros.

Aliás, Manuel Maria, o filósofo-candidato, já nos tinha brindado com mais uma ideia emblemática: o teatro de revista devia acabar porque é só “para uma minoria”... Nada elitista o senhor.

“Fina” é igualmente a candidata apoiada pelo CDS-PP que, preocupada com “as senhoras que andam de salto alto nas ruas de Lisboa”, defende o fim da “calçada portuguesa”.

Diz Maria José Nogueira Pinto que se devia adoptar para Portugal o sistema de Madrid: passeios em cimento.

Pois, eu cá também acho.

Já agora, de Espanha podíamos importar também os salários, o preço dos combustíveis, o desporto e os seus resultados, as “paellas”, as touradas de morte e, porque não… os candidatos e os políticos.

Há coisas que continuam a surpreender-me: ver a candidata da direita contestar uma tradição portuguesa como a nossa calçada é tão estranho como, um destes dias, ver o Bloco de Esquerda defender a criminalização das drogas leves.

PS: Só para que conste: Eu não voto em Lisboa… felizmente.

domingo, setembro 11, 2005

Santana, o Humilde…

Com a chegada de Setembro, regressaram algumas “personagens” que são fundamentais para a nossa sanidade mental. Neste post destaco duas que são, em certo sentido, irmãos siameses: o “menino guerreiro” Santana e o fiel “escudeiro” Luís Delgado.

O ex-presidente da Câmara de Lisboa e futuro “novo” deputado continua igual a si próprio.

Primeiro, na semana de todas as inaugurações voltou a meter água com a Feira Popular, depois ainda tentou arranjar um “pseudo-tabu” ao ser confrontado com a necessidade de decidir entre a autarquia até Outubro ou o Parlamento por mais três anos. Como se não soubéssemos…

No comentário a mais esta alteração na vida de Santana, o impagável Delgado não foi de modas: esta é uma atitude de “grande humildade”, pode ser muito boa para ele e, quem sabe, o ex-autarca até pode – como aconteceu com o amigo Paulo Portas – ganhar o prémio de “deputado do ano”.

Isto é que são amigos…

quarta-feira, setembro 07, 2005

Sem mais comentários…

A poucos dias da cimeira das Nações Unidas, em Nova Iorque, o relatório sobre o Desenvolvimento Humano em 2005 confirma o fosso entre países ricos e pobres.

Por exemplo:

As quinhentas pessoas mais ricas do mundo têm tanto dinheiro como os 416 milhões mais pobres;

Por cada dólar que os países ricos concedem em ajuda, correspondem dez gastos em despesas militares; sete mil milhões de dólares por ano seriam suficientes para, em dez anos, abastecer de água limpa 2,6 mil milhões de pessoas (mais do que isto gastam, anualmente, os europeus em perfumes e os americanos em cirurgias estéticas);

Morrem mil e duzentas crianças por hora, devido à pobreza.

Vale mesmo a pena pensar nisto… Quando será que os “senhores do mundo” vão acordar?

sábado, setembro 03, 2005

E tudo o vento levou…

O furacão “Katrina” entrou nos Estados Unidos sem pedir licença e, quase, varreu New Orleans do mapa.

A capital do Jazz foi apenas um dos locais atingidos, mas a cidade ficou completamente destruída e com 80% da sua superfície submersa.

O número de vítimas é, a esta hora, desconhecido mas as autoridades já falam na hipótese de haver milhares de mortos.

A juntar aos que não resistiram directamente a este fenómeno da natureza, que chegou a atingir o “grau cinco” (máximo), há ainda que os que ainda vão morrer de doença, ferimentos, fome ou sede.

É que há milhares de pessoas sem água, comida, tecto, luz, à mercê de bandidos e saqueadores.

Há habitantes a roubar para sobreviver e há tresloucados nas ruas que disparam contra tudo o que lhes aparece pela frente (sejam helicópteros de ajuda ou pessoas a sair dos hospitais).

Os apelos desesperados do presidente da Câmara de New Orleans e de um grupo de senadores negros foram arrepiantes, as imagens das populações foram de uma violência atroz.

Já a completa inacção do Governo Federal é revoltante e obscena. George W. Bush só ao quinto dia se dignou ir às áreas mais atingidas para dizer umas baboseiras.

Em mais um dia louco com declarações fortíssimas, alguém colocou os pontos nos “ii”: “As pessoas que faleceram nesta tragédia, morreram porque eram pobres, não porque eram brancos ou negros”.

“Tenho vergonha do meu país, tenho vergonha deste Governo”, dizia uma Senadora emocionada perante a tragédia.

Como é possível que o líder do país mais rico do mundo deixa que tudo isto aconteça no seu próprio território sem reagir?!

Como é possível que o senhor Bush, a primeira vez que falou aos norte-americanos, se tenha preocupado apenas com a gasolina e o petróleo?!

Como é possível que o presidente do “dono do mundo” tenha dito que esta “tragédia vai ser boa porque as pessoas afectadas vão ter casas novas”?!

Como é possível que na véspera da chegado do “Katrina”, as pessoas tenham sido alertadas para sair da cidade, mas não lhes tenham sido dadas mais indicações?!

Como é possível que não se tenha prevenido um eventual desvio de trajectória, que veio a acontecer?!

Como é possível que Bush não se demita?!

Como é possível…

sexta-feira, setembro 02, 2005

“Nim”

“Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não” - diz o poema, mas não foi isso que se passou...

Nos primeiros 9 minutos e 45 segundos da declaração que fez no “Forno da Mimi”, em Viseu, tudo parecia indicar que Manuel Alegre ia avançar.

O discurso foi fantástico, com os argumentos certos, bem escrito, bem lido, “contra tudo e contra todos”, contra “ventos e marés”, contra amigos de sempre e adversários de estimação.

No fim, os últimos 15 segundos, Alegre estragou tudo: “Não concordo com a outra candidatura mas, para não ser acusado da derrota, para não dividir a esquerda, deixo-me ficar como estou”.

É verdade que não tinha o apoio do partido e não ia ganhar as eleições, mas as convicções e a determinação de Alegre seriam importantes nesta campanha.

Assim, acobardou-se, rendeu-se e disse “nim” com sabor a “não”.

Manuel Alegre falhou ao não avançar com a candidatura a Belém e desiludiu-me. Já perdeu um voto...

Agora, para os portugueses, a escolha de Janeiro vai ser entre o voto branco e a dupla “Bucha e Estica”.

domingo, agosto 28, 2005

Curtas e grossas…

De regresso à actividade "blogueira", apetece-me fazer “Tiro ao Alvo” e atirar a matar, rápida e certeiramente…

· O país voltou a arder, e muito, como em 2003. De lá para cá pouco ou nada se fez… lamentável.
· Atenção aos números: 14 pessoas morreram devido aos fogos, mais de 100 foram detidas por suspeita de fogo posto, 180 mil hectares de área florestal já arderam.

· Estamos num período de seca severa e extrema porque não há, não houve, uma verdadeira “política da água” no país.

· 580 pessoas já morreram nas estradas portuguesas só este ano. Alguém, por favor, que acabe com esta guerra silenciosa em Portugal.

· Mário Soares e Cavaco Silva vão defrontar-se, num combate de “titãs”, para Belém. Isto, se não fosse trágico, até podia ser uma comédia com o regresso do “Bucha e do Estica”.

· A pré-campanha para as Autárquicas já está aí: as inevitáveis promessas, o show-off mediático de sempre, as críticas do costume, as parvoíces habituais dos verdadeiros “cromos”…

· Armando Vara é mesmo competente, até conseguiu ser promovido a administrador da Caixa Geral de Depósitos.

· O petróleo continua a subir, imparável, e o nosso país, “superdependente”, sofre com isso. Nós que temos sol todo o ano, mar todo o ano, vento todo o ano, porque não aproveitamos?

· Os iraquianos continuam às voltas com a Constituição. Sunitas, xiitas e curdos ainda não se entenderam. O único acordo é que é “obrigatório” chegar a acordo. Não se sabe é quanto, nem como.

· No Médio Oriente, Sharon deu um passo inesperado. É um pequeno (e primeiro) passo, mas é na direcção certa. Finalmente, o “falcão” dá mostras de querer a paz. Agora, a bola está do lado palestiniano.

segunda-feira, julho 11, 2005

Tiro ao Alvo... a banhos

Nas próximas semanas, o "Tiro ao Alvo" vai estar "numa praia perto de si" e incontactável por qualquer via informática.

Reabriremos nos primeiros dias de Agosto com "pontaria afinada" ao que se for passando "no país e no mundo".

Sim, porque eu "vou andar por aí"...

sábado, julho 09, 2005

Big Bang

Voltámos a ser sobressaltados com mais um atentado cobarde que fez dezenas de vítimas em Londres.

Mais uma vez morreram pessoas inocentes que só queriam ir trabalhar e que nada têm a ver com questões políticas, religiosas, ou outras.

Seja qual for a “razão” dos terroristas nada (mesmo nada) justifica que se matem civis só para “dar espectáculo”.

Para além de tudo o mais, há dois aspectos que me chocam especialmente: a impotência em responder perante um ataque deste tipo (não é possível controlar as milhares de pessoas que andam a toda a hora nos transportes públicos) e a tremenda frieza dos homens que comandaram e executaram esta operação (o que lhes interessa é matar e matar muito, independentemente de quem possa ser).

Sinceramente, não sei como “isto” se poderá resolver e agora até já tenho dúvidas que tenha alguma coisa a ver com a presença das tropas internacionais no Iraque (que foram e são, obviamente, um erro, mas que não podem justificar tudo).

Depois das Torres Gémeas, de Bali, Madrid e, agora, Londres, infelizmente, a única certeza que temos é que, mais tarde ou mais cedo, “eles” vão voltar a atacar… só não se sabe quando e onde.

O que também me parece é que, agora, depois da “casa arrombada" é escusado que se faça muito “show-off” com as “trancas na porta”.

Por aquilo que já se viu, a Al-Qaeda (tudo parece indicar que é esta a assinatura) ataca quando menos se espera, nos sítios e situações comuns da vida quotidiana.

Está confirmado que, desde Setembro de 2001, foram evitados na Europa dezenas de atentados, o problema é que os terroristas não têm pressa e, pior do que isso, basta-lhes ir marcando um “golo” de quando em vez.

PS: Não sei se é apenas coincidência mas o certo é que, dos países que participaram na cimeira das Lajes, o único que ainda não foi atacado foi Portugal.

quarta-feira, julho 06, 2005

O outro “69”

Na próxima sexta-feira, milhões de pessoas em vários países da Europa vão estar em suspenso à espera dos “números” e das “estrelinhas” do Euromilhões.

Este novo concurso europeu bate todos os recordes e oferece esta semana 69 milhões de euros (quase 14 milhões de contos).

Antes de continuar, deixem-me só esclarecer que não tenho nada contra o jogo legal (nem este, nem qualquer outro) e que sei que este até está concessionado à Santa Casa da Misericórdia, o que permite ajudar pessoas com problemas.

No entanto, é só esta a minha questão, parece-me que dar 14 milhões de contos a alguém que acertou umas cruzinhas, parece-me um exagero, quase diria uma obscenidade.

Especialmente quando se sabe que o país está em crise e há tanta gente, milhares de pessoas, com dificuldades.

Por outro lado, há ainda o outro lado da moeda para quem ganha uma quantia tão alta: os “amigos” que aparecem e que, por exemplo, até obrigaram duas famílias portuguesas (novos Euromilionários) a desaparecer.

Não sei se “isto” algum dia pode ser alterado (eventualmente com um “tecto monetário” para os apostadores e o resto entregue a ONG), mas o que é certo é que esta é uma questão que me perturba.

domingo, julho 03, 2005

Vale a pena pensar nisto…

Uma criança morre de fome a cada 3 (três) segundos, 50 mil pessoas morrem diariamente em todo o mundo em estado de extrema pobreza.

Foi para tentar chamar a atenção para estes números absolutamente trágicos que, este sábado, dezenas de bandas ao vivo, em 10 palcos espalhados pelo mundo, milhares de pessoas "in loco" e muitos milhões pela televisão se juntaram numa acção sem precedentes para tentar acordar o Planeta para este GENOCÍDIO.

Sim, porque “isto”, que está a acontecer não tem outro nome.

O Live8, organizado por Bob Geldof, juntou, para além de milhões de anónimos, muita gente da música, mas também pessoas importantes da sociedade e da política (Kofi Annan, Nelson Mandela, Bill Gates, Angelina Jolie e muitos, muitos outros).

Agora, é preciso, é essencial, é obrigatório que os “Senhores do Mundo” ouçam este apelo e que, na bela Escócia, a partir de dia 6, o G8 (os oito países mais ricos do Mundo) passem das palavras aos actos e comecem por duas coisas simples: o fim da dívida externa aos países mais pobres e o aumento efectivo da ajuda.

E que não venham com a “estória” de que “estamos em crise e que não há dinheiro”.
Para acabar com a pobreza no mundo é necessário muito menos dinheiro do que, por exemplo, já custou, até agora, a guerra no Iraque.

Nós, comuns mortais, também podemos ajudar, à nossa medida, as várias ONG que por aí andam a apoiar quem precisa, mesmo no nosso país de quase meio milhão de desempregados.

sexta-feira, julho 01, 2005

O sítio em que vivemos II

Um amigo costuma dizer que “nós não vivemos num país, vivemos num sítio (mal frequentado)”. Infelizmente, cada vez há mais exemplos de que ele tem razão.

Estamos a pouco mais de três meses das eleições autárquicas, que devem realizar-se a 9 de Outubro, mas há já candidaturas que marcam bem o que é o nosso país.

Fátima Felgueiras, Isaltino Morais, Valentim Loureiro e Avelino Ferreira Torres são quatro exemplos do que não deveria acontecer num país “civilizado” como o nosso.

Qualquer dos quatro personagens é arguido em processos que estão a decorrer em tribunal (aliás a senhora Felgueiras até está foragida à justiça), mas isso não os impediu de concorrerem a mais um mandato.

É a demagogia, o populismo e a falta de vergonha ao seu mais alto nível…

Mas o que é (ainda) mais incrível é que, apesar de tudo o que são acusados, qualquer um destes candidatos tem fortes hipóteses de ganhar a respectiva autarquia.

Volta a surgir a questão: “Como é que é possível?”

É certo que, até prova em contrário, todos são inocentes, mas a verdade é que, se isto fosse um país e não um “sítio”, nenhum dos quatro poderia, com a calma olímpica com que o fazem, concorrer a estas eleições.

Há vários exemplos, até mesmo em Portugal, de políticos que, por muito menos do que isto, fizeram retiradas estratégicas ou períodos sabáticos até que tudo ficasse devidamente esclarecido.

2+2= 5

Se dúvidas existiam, aí está mais uma prova de que os portugueses não sabem fazer contas…

Depois das “discrepâncias” do Ministério das Finanças no Orçamento Rectificativo, agora ficou a conhecer-se a “gralha” da equipa do Banco de Portugal em relação ao cálculo do défice.

Até novos erros, o défice é de 6.72 e não 6.83%.

Era capaz de não ser má ideia pedir (estou a ser simpático) aos senhores economistas que fizeram (mal) estas contas que regressem aos bancos das escolas.

Após mais estes dois casos (graves) já começo a duvidar que este nosso problema com a matemática tenha solução.

Se calhar é genético…

quarta-feira, junho 29, 2005

2+2=?

Que o país está em crise, já se sabe, que a matemática é um dos graves problemas dos nossos alunos, também não é novidade, que tenha havido Primeiros-ministros que não sabem fazer contas, não é notícia, agora, que um ministro das Finanças e toda a sua equipa se enganem, isso sim, já é uma revelação só ao nível de países “especiais”.

Vem isto a propósito dos “erros”, “trapalhadas”, “discrepâncias” (como quiserem chamar) no Orçamento Rectificativo apresentado por Luís Campos e Cunha…

Depois de muito se ter criticado as contas de Bagão Félix, o novo ministro apresentou na sexta-feira o seu documento. Acontece que, depois das análises dos jornais e da oposição, Campos e Cunha foi obrigado a emendar o OE Rectificativo.

Ora, e feitas as contas, não foi uma simples emenda, foi uma autêntica remodelação. Das 22 alíneas do documento apenas duas ficaram tal e qual.

Entretanto, a oposição não parece nada convencida e fala em diferenças de milhões de euros entre o que consta, agora, do Orçamento Rectificativo Rectificado e o que foi apresentado a Bruxelas.

Pois, e assim vamos andando… para um ministro e toda a sua equipa que eram considerados muito competentes tecnicamente, não há dúvida que Campos e Cunha não teve um bom começo.
Neste cenário não me parece nada despropositada a proposta de Ribeiro e Castro de oferecer ao ministro uma máquina de calcular…

segunda-feira, junho 27, 2005

O sítio em que vivemos…

É por estas e por outras que eu, às vezes, tenho que me beliscar para ter a certeza que vivo mesmo em Portugal e não no Burkina Faso ou em Nauru*.

Acho inacreditável, já para não dizer inadmissível, que aconteçam “certas e determinadas situações” num país “civilizado”, da União Europeia, em pleno século XXI.

Depois de já termos visto postos de electricidade no meio da via pública e campos de futebol cortados por uma estrada, tivemos, esta noite, mais um exemplo que só não é caricato porque teve consequências graves.

Uma pessoa morreu e outra ficou gravemente ferida quando uma avioneta (!) chocou com um automóvel (!) em plena pista do aeródromo de Espinho.

Ao que parece, o facto de uma estrada cruzar o aeródromo já era considerado normal. Segundo testemunhas, só não tinha havido mais acidentes porque, habitualmente, na zona do cruzamento, já as aeronaves costumam ir no ar, passando por baixo dos veículos.

Claro que mudar esta situação nunca deve ter passado pela cabeça dos responsáveis mas, atenção, há um "sinal de STOP para as viaturas, uma vez que há o perigo constante de circulação de aeronaves", diz um senhor do aeródromo.

Como é que é possível?

(*) Não se pretende, de modo nenhum, ofender os países aqui mencionados.

sexta-feira, junho 24, 2005

Serviços máximos, direitos mínimos…

Sinceramente, não sei se os professores têm razão para as greves que fizeram esta semana. Há, no entanto, dois pontos que gostaria de deixar claros.

Em primeiro lugar, tenham ou não tenham razão, defendo que os professores devem cumprir “serviços mínimos”, especialmente se as paralisações afectarem exames nacionais.

No entanto, o que já não me parece bem e, aliás, até me parece perigoso, é que o Governo imponha “serviços mínimos”, que são, na verdade, “serviços máximos” (todos os professores foram chamados às escolas).

A piorar ainda mais esta situação está o facto de, alegadamente, o Executivo ter enviado cartas aos conselhos directivos a pedir os nomes dos “professores faltosos”.

O Primeiro-ministro disse hoje, no debate mensal no Parlamento, que os professores “abandonaram os alunos”.

A confirmar-se a existência da carta e a possibilidade dos docentes serem castigados, este pode ser um grave passo atrás e um perigoso recuo na vida democrática do país.

O direito à greve não pode ser posto em causa.

segunda-feira, junho 20, 2005

A manif que não queria ter visto...

Tinha pensado fazer um “post” sobre a manifestação no Martim Moniz, mas desisti.

Aquelas cerca de 200 pessoas não merecem a minha atenção, até porque eu só costumo falar de coisas sérias.

Aliás, dar-lhes atenção, seria seguramente contraproducente e podia dar-lhes força para continuarem a pressionar e a alastrar as ideias racistas e xenófobas.

Assim, reduzindo àquela insignificância os manifestantes, os portugueses lúcidos deram sinais positivos. Felizmente.

quarta-feira, junho 15, 2005

“Até sempre, camarada”

Esta quarta-feira é dia de luto nacional em homenagem a Álvaro Cunhal, o líder histórico do PCP.

Pode ou não gostar-se de Cunhal, das suas ideias, daquilo que fez ou queria fazer em e por Portugal...

O que, no entanto, me parece indiscutível é que se reconheça que Álvaro Cunhal era e foi sempre coerente com as ideias e convicções que defendeu, nunca vergou, nunca se rendeu, nunca se vendeu…

Há poucos políticos mundiais que possam dizer o mesmo.

É certo, no entanto, que as suas ideias (as do marxismo-leninismo) tinham (têm) aspectos, no mínimo, polémicos e controversos, até de difícil aplicação prática.

Este é um lado da questão… Há, por outro lado, outro aspecto que me merece análise:

Quais são os critérios que fundamentam as propostas para “dia de luto nacional”? Tendo como exemplo os últimos casos, são critérios muito pouco perceptíveis.

Senão vejamos, Cunhal foi homenageado com um dia de luto, Sousa Franco também mas, antigos Primeiros-ministros, como Maria de Lurdes Pintassilgo e Vasco Gonçalves, não tiveram esse direito.

Há coisas que não se percebem…

PS: Milhares de pessoas participaram na última homenagem de Cunhal, muitas delas que nada tinham a ver com o PCP. Isto só prova que o líder comunista, também o escritor e artista, era respeitado.

domingo, junho 12, 2005

Marés vivas…

Depois das novelas, dos jogadores de futebol, dos dentistas e dos cabeleireiros, eis que Portugal volta a importar mais uma moda brasileira: o “arrastão”.

Neste fim-de-semana centenas de jovens, alegadamente vindos das “zonas problema” da área de Lisboa, entraram de rompante em duas praias do país (Carcavelos e Quarteira) para assaltar os banhistas.

Em Carcavelos aconteceu o caso mais grave: cerca de 500 miúdos “atacaram”, a polícia não estava lá, a que chegou, obviamente, não era suficiente…

Acredito que não fosse fácil controlar esta situação, o que questiono é o facto de ninguém ter percebido a “combinação” ou estranhado aquela aglomeração de jovens, alguns deles, seguramente, bem conhecidos das autoridades.

O que é certo é que o país está em crise e estes casos vão continuar. O sentimento de insegurança vai aumentar e, por consequência, a xenofobia também.

Não sei bem como “isto” se resolve, o que sei é que seguramente não é instalando os miúdos na Cova da Moura ou no bairro da Bela Vista que a “coisa” melhora.

É obrigatório fazer um esforço e compreender estas pessoas na sociedade, dar-lhes trabalho, integrá-las… sob pena de a situação se continuar a agravar irremediavelmente.

sexta-feira, junho 10, 2005

Devagar… devagarinho e parados…

Juntando os feriados de 10 e 13 de Junho com o fim-de-semana, milhares de portugueses partiram numas “mini-férias” de quatro dias para o Algarve.

Para esquecer a crise e o défice nada melhor que uns mergulhos nas praias da moda e aparecer na terça-feira com aquele “bronze” de fazer inveja ao colega do lado que – coitado – não foi para Sul descansar.

Em “peregrinação”, todos juntinhos, carros, carrinhas, caravanas… tudo serviu para levar o pai, a mãe, o Joãozinho, a Mariazinha, a avó, o canário e o cãozinho para a praia.

Ora, resultado desta fobia colectiva, quilómetros e quilómetros de fila entupiram o caminho dos Algarves na A2 e suas ligações e acessos.

Deixo aqui dois exemplos elucidativos: à 1 da manhã de sexta-feira havia 15 quilómetros de fila, às 13 horas o “monstro” tinha chegado aos 29 quilómetros.

A “unanimidade” ou, neste caso, a “carneirização” são dois erros em que os portugueses costumam cair e que ultrapassam, em muito, as idas aos magotes para as praias do Algarve.

É pena…

Agora, na próxima terça-feira, os mesmos que foram em fila para o Algarve e, em fila, foram para a praia, voltam à fila do IC-19.

Quando chegarem, atrasados, ao trabalho vão dizer: “Merda, tou cansado, estou mesmo a precisar de férias”.

Como diz um amigo meu: “É bem feito”

A “época dos fogos” e o “país em chamas”

Estes são "clichés" mas, mais uma vez, o país está a arder e, mais uma vez, falham os meios de prevenção e combate aos fogos.

Claro que a seca e o imenso calor agravam a situação, mas é inadmissível que, todos os anos, o cenário negro das terras queimadas se repita em milhares de hectares ao longo do país.

Os Governos mudam, os planos de combate são montados, as apresentações repetem-se, sempre com pompa e circunstância, mas, no fim das contas, o balanço é sempre trágico.

A prevenção, a limpeza das matas, o apetrechamento com novos meios… nada disto é feito a tempo e horas…

Este ano, por exemplo, voltámos à “novela” dos meios aéreos que chegam e não chegam, que estão e não estão, que avariam e não avariam…

Repito aqui o que escrevi em Março quando quatro bombeiros morreram em Mortágua durante o combate a um incêndio:

“É obrigatório responder rapidamente e ajudar quem sofre, mas é também fundamental analisar e prevenir todas as situações antes que elas aconteçam. Num país em que se prefere comprar dois submarinos e não helicópteros e aviões de combate a incêndios, talvez, estivesse na altura de rever prioridades”.

Por outro lado, nós que trabalhamos em comunicação, também não ajudamos muito os bombeiros que fazem – acredito – o melhor que podem e sabem com as condições que têm ao dispor.

Somos nós que falamos em “abertura da época de fogos”, “o maior incêndio de tal sítio”, “todos os incêndios estão circunscritos”… Talvez devêssemos mudar de estratégia.

Já às autoridades pede-se que “ataquem” forte nas investigações, apanhem os incendiários e os punam exemplarmente, com prisão efectiva, ao mesmo tempo que se exige que façam uma campanha de sensibilização para evitar que as pessoas cometam alguns erros perigosas para as florestas.

É preciso fazer tudo o que for possível para combater esta catástrofe cíclica que, todos os anos, abala o país e o deixa em chamas.

segunda-feira, junho 06, 2005

Medalha inquinada

Jorge Sampaio vai agraciar, no próximo dia 10 de Junho, 59 personalidades, na sua última presença no Dia de Portugal como Presidente da República.

Entre os condecorados vai estar, depois de duas recusas, a ex-ministra Leonor Beleza.

A antiga titular da pasta da Saúde vai receber a “Ordem de Cristo” que “distingue serviços prestados ao País no exercício das funções dos cargos que exprimam a actividade dos órgãos de soberania ou na Administração Pública, em geral, e na magistratura e diplomacia, em particular, e que mereçam ser especialmente distinguidos”.

Eu, sinceramente, acho isto “extraordinário”, mas acredito que as famílias dos hemofílicos de Évora achem “ofensivo”, para não dizer "escandaloso".

Como é possível que se homenageie uma senhora que esteve ligada, directa ou indirectamente, a um caso tão dramático e que, ainda hoje, passados tantos anos, não está ainda bem explicado.

Tenho pena que a Dra Leonor Beleza não tenha resistido aos apelos do Chefe de Estado e não tenha recusado, pela terceira vez, esta condecoração.

É necessário ter respeito pelos inocentes que morreram devido ao erro de alguém, alguém que estava ligado ao ministério da Saúde, tutelado na altura por Leonor Beleza.

De recordar que o Supremo Tribunal de Justiça não decidiu que a senhora ministra era inocente da acusação de negligência no caso do sangue contaminado com HIV, mas sim que o processo prescreveu, pelo que não haverá julgamento.

Gostaria só de lembrar que de um total de 135 hemofílicos que acabaram por ser contaminados, metade já morreram. O processo contra Leonor Beleza e a mãe envolvia 35 doentes.

domingo, junho 05, 2005

A Madeira é um Jardim... Zoológico

O português é uma língua rica, mas já não há palavras para qualificar as atitudes de Alberto João Jardim.

O presidente do Governo Regional da Madeira voltou a presentear todos os portugueses com outra “pérola” do mais elevado recorte “literário”.

Comportando-se como um inimputável, Jardim continua a ofender tudo e todos, como bem lhe apetece, e ninguém parece ter mão nele (Presidente da República e presidente do PSD incluídos).

Mais uma vez, as vítimas do senhor da Madeira foram os “jornalistas do Continente” que tiveram o descaramento de falar na sua reforma, que acumula com o salário de governante.

Já muitas vezes os jornalistas foram os alvos de Jardim, mas chamar “bastardos e filhos da puta” a toda uma classe profissional já é ir longe demais.

Quando um governante com responsabilidades públicas tem atitudes destas, de tremenda falta de educação, o que podemos esperar do comum dos mortais?

É urgente que alguém ponha o senhor na ordem, se preciso for o leve à justiça e o obrigue a responder em tribunal por este e outros casos…

Reformados… mas pouco

Mário Lino e Luís Campos e Cunha acumulam, com o ordenado de ministro, pensões “ganhas” em anteriores empregos.

O ministro das Obras Públicas tem duas pensões, uma da segurança social (depois de 37 anos de serviço) e outra do IPE. Já o ministro das Finanças tem uma reforma por ter sido vice-governador do Banco de Portugal durante (6) seis anos (*).

Os senhores governantes defendem-se dizendo que é tudo legal e que são direitos adquiridos legitimamente.

O que eu contesto não é a legalidade, é a moralidade…

Não me parece justo que o Governo diga que o país está em crise, que é preciso fazer sacrifícios e depois haja ministros a acumular dois e três ordenados.

“Ou há moralidade ou comem todos”, já diz o ditado…

Com que cara vai Campos e Cunha aumentar os impostos, dar aumentos de 2% e “apertar o cinto” dos portugueses quando, no fim do mês e, ao mesmo tempo, levar milhares de contos para casa?

Para remediar esta situação, fico à espera que, no mínimo, os senhores abdiquem de um dos ordenados.

PS: Entretanto, ficou também a saber-se que cerca de 80 juizes foram aumentados em 35%. Ora, isto é que é justo quando se sabe que os "bandidos" dos funcionários públicos vão ser aumentados, em média, 2%.

(*) Eu também já estou há seis anos na mesma empresa, será que já me posso reformar com um ordenado chorudo?

segunda-feira, maio 30, 2005

“Non”

Os franceses chumbaram o Tratado Constitucional Europeu por uma margem confortável (54,87% dos votos, contra 45,13).

Agora, a Europa está metida num grande sarilho, até porque, na próxima quarta-feira, os holandeses vão repetir a dose e dar mais um rotundo “não” a este documento.

É bem feito para os "Senhores da Europa" que querem fazer depressa e bem e meter o Rossio, na rua da Betesga. Ora, isso não é possível...

O Governo português promete avançar para o referendo em Outubro, a não ser que “circunstâncias muito extraordinárias alterarem por completo o processo e levarem toda a Europa a enveredar por um novo rumo” (Freitas do Amaral).

Eu, por mim, não sei o que responder: Não sei exactamente o que se discute neste tratado, não sei o que se altera…

O que é certo é que, se for para dar mais poderes a Bruxelas em detrimento dos políticos portugueses, vou ser obrigado a votar a favor, mesmo contra aquela que foi sempre a minha opinião.

É que, olhando para toda a nossa classe política, dá vontade de os reformar antecipadamente, sem direito a indemnização, e entregar este país a alguém que, realmente, perceba o que está a fazer e que, por uma vez, cumpra o que promete.

domingo, maio 22, 2005

“Defshit”

Agora é que eu percebo aquele meu professor que quando falava de défice (ou deficit) pronunciava qualquer coisa como: “defshit”.

Afinal, aquilo não era um problema de articulação de sílabas ou uma “pronúncia bem” era, simplesmente, uma premonição para o que se passaria anos depois.

Primeiro o PSD, agora o PS, vão chatear-nos, “ad nauseum”, com a “estória” do défice e que a coisa está mal e que temos que fazer sacrifícios… e tal.

Ora, com licença da expressão, “já não há cu para esta merda”.

Na altura da nossa “dama de ferro”, o “defshit” rondava os 4.5% e era um escândalo nacional, agora – dizem – o dito já deve andar à volta dos 7% (Vítor Constâncio o saberá, José Sócrates o dirá).

Sinceramente, não percebo nada de economia, o que duvido é que esta “shit” seja a questão mais importante do nosso país.

O Presidente da República já alertou para que “há vida para lá do défice”, mas parece que ninguém ligou.

O que eu sei é que há países com défice alto, que se estão a “cagar” para isso… O que eu sei é que há quase 500 mil desempregados em Portugal e isso é que é (muito) preocupante.

Outra coisa que me lembro é das promessas do PS durante a campanha eleitoral. Espero que os socialistas não cometam o mesmo erro do PSD que, há três anos, disse uma coisa e fez outra… foi aí, logo aí, o princípio do fim do Governo “laranja”.

Caso se tenham esquecido, Sócrates prometeu, entre outras coisas, não aumentar impostos e manter as SCUTS. E agora...

domingo, maio 15, 2005

!?

“O aborto é matar um ser humano que não se pode defender, enquanto a Vanessa, de cinco anos, podia gritar, acusar e ficava com marcas no corpo que outros podiam ver”.

Assim falou o padre de Lordelo na missa de sétimo dia por Vanessa, a menina de cinco anos que terá sido agredida até à morte pelo pai e pela avó.

A mim parece-me normal que um padre se oponha ao aborto e que tente fazer vingar a sua opinião.

O que eu já não acho normal e, para ser sincero, acho nojento é que se utilize este tipo de exemplo.

No mínimo, e mesmo isto pode ser polémico para algumas pessoas, o que o senhor padre tinha que dizer é que matar uma menina de cinco anos é tão grave quanto matar um feto.

Por outro lado, quando o senhor diz que a pequena Vanessa “podia gritar, acusar e ficava com as marcas no corpo” é não ter noção do que está a dizer ou, pior ainda, está a fingir que não sabe.

Na esmagadora maioria destes casos, as crianças abusadas calam porque têm vergonha ou são ameaçadas e, por isso, não se conhece na íntegra a magnitude desta tragédia.

Apesar disso, Portugal consegue, segundo a OCDE, um “orgulhoso” primeiro lugar nos casos de maus-tratos a crianças com consequências mortais.

Espero que alguém chame o senhor padre à atenção e ele possa, o mais rápido possível, emendar a (tristíssima, infelicíssima, lamentável) declaração que fez e, pelo menos, pedir desculpas à família da menina.

sábado, maio 14, 2005

(Assim não) Vale tudo…

Numa decisão inédita no clube “encarnado”, um sócio foi expulso do Benfica. O sócio em causa é Vale e Azevedo, antigo presidente.

A decisão foi tomada por 65% dos 412 sócios votantes presentes nesta Assembleia-Geral histórica na Luz.

Sinto-me dividido quanto a esta decisão, mas atenção – para que não haja dúvidas – não por pena do dito senhor que quase ia destruindo o clube.

A minha única dúvida tem a ver com a história democrática da Instituição que sempre foi uma das bandeiras do clube, mesmo durante os tempos de Salazar.

É verdade que Vale e Azevedo manchou o nome do Benfica, fez “negócios” que ainda hoje obrigam o clube a uma grande ginástica financeira e que quase o levaram à falência mas… expulsão.

Obviamente compreendo a decisão dos sócios… eu se estivesse na Assembleia estaria, seguramente, mais inclinado para o “sim”, mas…

PS: à margem da decisão da Assembleia há uma nota que não gostaria de deixar passar: Manuel Vilarinho, outro ex-presidente do clube, fez-se acompanhar por segurança privada. Porquê? Não estava entre consócios? Estranho.

Governo de (con)gestão

O Ministério Público está a investigar todos os negócios do anterior Governo celebrados depois da dissolução da Assembleia da República, quando o Governo estava em gestão.

Em causa está a adjudicação do Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal, o SIRESP, a um consórcio liderado pela Sociedade Lusa de Negócios e, especialmente, o caso dos sobreiros em Benavente.

A primeira versão indicava que os senhores ministros tinham assinado o despacho quatro dias antes das eleições (só isso já é estranho e grave). Pior quando agora, segundo o “Expresso”, a data foi falseada.

Para já, Luís Nobre Guedes é arguido, enquanto os outros dois ministros são, para já, apenas, testemunhas.

Convém mesmo que se investigue este caso e todos os outros. Não podemos continuar a viver com esta suspeição e deve, por isso, acabar-se com as negociatas.

segunda-feira, maio 02, 2005

Cheques há muitos

A partir de agora, passar um “cheque-careca” até 150 euros deixa de ser crime, passa a ser um “mero ilícito administrativo”.

Num país em crise, em que são os “espertos” quem mais ordena, este é mais um passo para o aumento das dívidas e das falcatruas dos portugueses.

Seguramente vai subir o número de cheques passados até esse valor e, verificado o aumento de casos sem provimento, os comerciantes, para se defenderem dos trapaceiros, vão começar a proibir a entrega de cheques para pequenas quantias.

Enquanto isto não acontecer, ou o Governo não mudar de opinião, os comerciantes vão queixar-se e os “espertos” vão fazendo umas compras à borla.

Os números são assustadores: No primeiro trimestre de 2005, o Banco de Portugal detectou um total de 293.032 cheques que foram devolvidos sem serem liquidados, num valor de 713 milhões de euros.

De acordo com o "Semanário Económico", cerca de 75% deste valor, ou seja, 533 milhões de euros referem-se a cheques sem cobertura.

O total de cheques sem provisão permite situar o valor diário das faltas de pagamento em 5,9 milhões de euros ou o equivalente a uma média diária de 2900 cheques devolvidos.

quarta-feira, abril 20, 2005

Bento XVI

Os Cardeais foram rápidos e, à quarta votação no Conclave, escolheram o Cardeal Joseph Ratzinger para 264º sucessor de Pedro.

Desta vez não houve surpresas e, ao contrário do que é habitual, “ganhou” mesmo o mais “papibille” de todos os “papabille”.

A igreja já vai dizendo que Bento XVI, com uns frescos 78 anos, é um Papa de transição, depois dos quase 27 anos de João Paulo II.

O que eu espero é que este não passe de “pontificado de transição” para “pontificado de regressão”.

O Cardeal alemão tinha, nas suas anteriores funções (Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Presidente da Comissão Pontifícia e da Comissão Teológica Internacional) a fama (e algum “proveito”) de “ultra-conservador”.

No entanto, os Papas são como os “melões” e só depois de “abertos” é que se sabe o que vão dar. Ao longo da história da Igreja já houve “estórias” de Papas “conservadores” que se tornaram “progressistas” e vice-versa.

À primeira vista parece que andámos para trás e a minha primeira reacção foi de desilusão, mas Bento XVI já prometeu seguir os caminhos do Concílio Vaticano II onde esteve.

Aguardemos…

segunda-feira, abril 18, 2005

O novo Papa

Esta segunda-feira começa o Conclave para a escolha do sucessor de João Paulo II.

115 Cardeais estão na Casa de Santa Marta e vão reunir-se na Capela Sistina os dias que forem necessários para descobrirem um novo Sumo Pontífice.

Encontrar um “substituto” para Karol Wojtila não vai ser fácil… eu diria mesmo que vai ser impossível.

O Papa polaco esteve na cadeira de Pedro quase 27 anos e deixou marcas impossíveis de esquecer.

Como disse D. José Policarpo – um dos Cardeais eleitores – o escolhido vai ter que seguir os passos de João Paulo II mas, ao mesmo tempo, vai ser muito difícil fazê-lo.

Esta frase do Cardeal Patriarca – em alguns círculos, um dos favoritos para a sucessão – resume bem a dificuldade dos eleitores.

Para as pessoas da minha geração – e mesmo fora dela, João Paulo II foi importante marcou e vai ser inesquecível em muitos passos do seu Pontificado.

Este Santo Padre seguiu, no entanto, um caminho com duas vias. Ou seja, consoante o tema ou foi progressista ou conservador e isso é, em minha opinião, algo estranho.

Se, por um lado, deu passos importantíssimos no diálogo inter-religioso tentando aproximar religiões (encontro de Assis, entrada em Mesquitas e Sinagogas, etc), se pediu perdão pelos pecados da Igreja na época da Inquisição, se se abriu aos jovens, se lutou sempre e incansavelmente contra a guerra, se criticou o comunismo, mas também a globalização, João Paulo II “esqueceu-se” muitas vezes das mulheres e, especialmente, do problema da SIDA ao recusar de forma peremptória a utilização do preservativo.

Enfim, ninguém é perfeito e eu vou ter saudades dele. O amor que ele tinha a Fátima e a Portugal era impressionante e a “estória” do atentado tem pormenores impressionantes.

Mesmo na sua morte se dão coincidências incríveis: João Paulo II morreu a 02 de 04 (Abril) de 2005. Ora, somando os números dá 13; o Papa faleceu (hora de Itália) às 21h37. Somando os números dá 13.

Segundo o Igreja é o Espírito Santo que escolhe o Papa, esperemos que escolha bem.

sábado, março 19, 2005

Menina do Rio

Fátima Felgueiras vai mesmo a julgamento no âmbito do chamado caso “saco azul”. O engraçado é que a senhora continua de "férias" no Brasil a rir-se na nossa cara.

A autarca é acusada de 28 crimes e de lesar o município em 785 mil euros. Entretanto, no despacho de pronúncia, a juíza deixou cair outros cinco crimes de corrupção passiva de que era acusada pelo Ministério Público.

A juíza Marlene Rodrigues fez o que tinha a fazer, o que é certo é que alguém falhou nesta “estória”…

A “menina do Rio”, em directo do Brasil, bem bronzeada, após ter conhecido o despacho de pronúncia, fez questão de colocar os “pontos nos ii”.

Fátima Felgueiras declara-se disposta a regressar a Portugal para ser julgada, mas só se for levantada a decisão de prisão preventiva.

Ora ai está, a senhora autarca é que manda: “fugi, estou aqui bem, ao solzinho, e volto se me apetecer e se me derem garantias de que não vou dentro”.

Esta não é a primeira fuga mediática para o Brasil (ainda não nos esquecemos do padre Frederico) e o reaparecimento televisivo de Felgueiras surge na mesma semana em que dois reclusos fugiram de duas cadeias portuguesas: um que veio estender roupa e outro que veio despejar o lixo.

O segundo caso então é gritante: o recluso, a cumprir o primeiro de 15 anos de cadeia, foi autorizado, com outro detido, a vir à rua deitar o lixo, acompanhado por 1 (um) guarda prisional.

Assim vai a justiça no nosso país… assim funciona o nosso sistema prisional.

domingo, março 13, 2005

Obrigado por serem quem são

Tomou posse este sábado o XVII Governo Constitucional. É nesta altura que eu quero deixar um agradecimento ao Executivo cessante.

Vamos ter saudades deles… Foram três anos de casos e casos que se agravaram nos últimos quatro meses de tutela santanista.

O que vai ser de nós sem o ministro Silva e o amigo Henrique Chaves? O que vai ser de nós sem Celeste Cardona e Nobre Guedes? O que vai ser de nós sem secretários de estado do desporto que têm medo de ir à bola e que têm vergonha de tutelar o serviço de protecção civil mas não se demitem? O que vai ser de nós sem “facadas nas costas”, “incubadoras” e “calimeros” (perdão, “meninos-guerreiros”)?

Não sei, mas vai ser duro…

Ficamos à espera que Santana Lopes volte à Câmara e que Portas recupere do choque da noite eleitoral.

A única boa notícia desta “estória” é que, seguramente, vamos voltar a ter um Luís Delgado ao seu melhor estilo, assim Sócrates e “sus muchachos” colaborem com ele.

sábado, março 12, 2005

Civilidades…

O líder do PP disse, na noite das eleições, que em nenhum “país civilizado” a distância entre os “democratas-cristãos” e os “trotskistas” é de apenas um ponto percentual.

É capaz de ter razão mas, em minha opinião, o que me parece pouco “civilizado” é que se tente reescrever a história à nossa maneira passando por cima de tudo e de todos.

Começou com a transformação do CDS em PP e agora continuou com a “eliminação” de Freitas do Amaral só porque o homem aceitou ser ministro de Sócrates.

O retrato do fundador do CDS foi retirado da parede no Largo do Caldas, embrulhado e enviado para o Largo do Rato (não se sabe se com aviso de recepção).

Se os outros partidos não fossem “civilizados” e aderissem a esta “moda” havia seguramente uma vantagem: os CTT agradeceriam e o mercado postal teria um novo fôlego.

O PSD teria que enviar, por exemplo, as fotografias de Portas e Sócrates aos novos partidos, o PCTP-MRPP mandaria várias imagens para uns partidos bem mais à direita, no PCP então nem se fala…

Talvez Portas e o secretário-geral dos “populares” se tenham inspirado no “Carteiro de Pablo Neruda”… ou não.

domingo, março 06, 2005

“Só sei que nada sei”

Já é conhecido o novo Executivo liderado por José Sócrates, que nos deve governar (!) nos próximos quatro anos.

Há ministros que não conheço bem por isso o melhor é esperar para ver. Agora, pelo que já ouvi, há coisas que me deixam, no mínimo preocupado.

Para já, no entanto, duas coisas positivas: primeiro, os nomes que acompanham Sócrates não foram conhecidos na praça pública, segundo este é um Governo (ligeiramente) mais pequeno (menos três ministros).

Na composição do elenco há mais sinais positivos: o regresso de António Costa, Augusto Santos Silva e Mariano Gago e o regresso de um ministro do Trabalho.

De notar também outras apreciações: os ambientalistas apoiam o novo ministro do Ambiente, os economistas parecem gostar dos ministros das Finanças e da Economia, da nova ministra da Educação dizem que não vai deixar ninguém indiferente.

Depois há Freitas do Amaral. O novo Chefe da Diplomacia é fundador do CDS, de direita, e vai integrar um Governo socialista sendo que as suas posições mais recentes contra os Estados Unidos e Bush contrariam aquilo que se tem feito nos últimos anos no nosso país. É a surpresa entre as escolhas de Sócrates e vamos ver como se liga com os colegas do gabinete.

São 16 ministros, entre militantes e independentes. Vai ser curioso perceber como ministros de “ala esquerda” do PS se vão dar com ministros claramente de “centro direita”. Aí vai ser preciso um pulso forte e um rumo certo de Sócrates para evitar desgovernos semelhantes aos de Santana e companhia.

Apesar da maioria absoluta, o PS não pode ser cego, surdo e mudo às oposições, especialmente à esquerda.

Nota final para os ausentes, em especial António Vitorino. Já começa a haver pouca paciência para este “vai não vai” de Vitorino.

No fim de contas o que se espera é um rumo certo, coordenação ministerial, para que a vida melhore e Portugal saia da crise. O que se espera é que o PS faça juz ao nome e ajude quem mais precisa.

PS: o primeiro sinal dado pelo novo ministro das Finanças (Luís Campos e Cunha) não é positivo.

sexta-feira, março 04, 2005

gaLINHA TELEFÓNICA dos ovos d’ouro

Há coisas que, sinceramente, não consigo entender e que ainda me conseguem surpreender. A PT consegue tirar-me do sério.

Se a situação não fosse grave até dava vontade rir.

Toda a gente sabe que o país está em crise, que há quase meio milhão de desempregados e que há empresas em grandes dificuldades para manter os salários e os postos de trabalhos aos empregados.

Isto é um facto… o que não entendo e tenho muita dificuldade em perceber é como é que uma empresa como a PT, um dos maiores grupos nacionais (se é que não é o maior) consegue, no mesmo dia, anunciar que teve lucros fantásticos e que, apesar disso, quer reduzir o número de funcionários.

O anúncio de que a Portugal Telecom quer reduzir até mil postos de trabalho foi feito na apresentação dos resultados anuais: em 2004 os lucros da PT atingiram os 500 milhões de euros, mais do dobro de 2003.

A diminuição de postos de trabalho atinge a PT Comunicações. Os custos com a redução estão estimados entre 250 a 270 milhões de euros.

A empresa garante que esta política de redução já estava prevista e a decorrer há vários anos, que não são despedimentos, que são acordos e reformas antecipadas, mas o certo é que são mais mil pessoas que vão para casa.

Resumindo, apesar de lucros recorde, a PT quer mais e mais… em vez disso, bem que podiam ajudar a pagar o défice, a aumentar as pensões e o salário mínimo.

PS: Entretanto, já este ano, podem juntar os 300 milhões de euros da Lusomundo media para engordar a “galinha”.

quarta-feira, março 02, 2005

Casa arrombada…

Quatro bombeiros dos Sapadores de Coimbra morreram em Mortágua quando combatiam um incêndio num dos dias mais frios do ano.

Este trágico incidente (um dos mais graves dos últimos 20 anos) voltou a trazer à luz do dia as dificuldades com que bombeiros e outras forças de segurança se deparam.

Ontem à noite, o secretário de estado adjunto do ministro da Administração Interna veio admitir que a lei actual não é suficiente para apoiar as famílias que sofrem.

Embora seja de realçar a franqueza de Pereira Coelho, dá vontade perguntar porque é que o Governo, se achava que era insuficiente, não alterou a dita lei?

Porque será que no nosso país – desde que há democracia tem sido (quase) sempre assim só REAGE nunca AGE.

São inúmeros os exemplos ao longo doa anos: caso Aquaparque, caso de Entre-os-Rios, caso dos polícias baleados em serviço… a lista podia continuar e deve ser interminável.

Estamos preparados para um grande terramoto em Lisboa? Os planos de protecção civil estão prontos?

Num país em que os hospitais estremecem com um surto de gripe o que aconteceria se houvesse uma epidemia grave, tipo SARS?

Pois, não sabemos a resposta. E esse é que é o problema. Temos que mudar isto.

É obrigatório responder rapidamente e ajudar quem sofre mas é também fundamental analisar e prevenir todas as situações antes que elas aconteçam.
Num país em que se prefere comprar dois submarinos e não helicópteros e aviões de combate a incêndio, talvez, estivesse na altura de rever prioridades.

segunda-feira, fevereiro 21, 2005

“Carta branca”

Os portugueses, fartos do “menino-guerreiro” e da crise, arriscaram tudo e passaram um "cheque em branco" a José Sócrates.

Mas o que é que o líder do PS fez para merecer o que Mário Soares e António Guterres sempre quiseram e nunca conseguiram?

De recordar que Sócrates alcançou 45.05%, 2573311 votos e 120 deputados na Assembleia da República (quando ainda faltam apurar os quatro da emigração).

A resposta é simples: nada (ou quase nada).

Tem no currículo a presença nos “governos Guterres” e, da sua participação, saltam à vista três tópicos: a co-incineração (que agora pode ser “repescada”), a despenalização do consumo de droga e a candidatura (ganhadora) à organização do Euro 2004. Está, agora, há poucos meses na liderança do partido e fez uma campanha na defensiva, sem se comprometer.

O que é certo é que Sócrates teve uma vitória inquestionável e histórica. A responsabilidade que tem agora sobre os ombros é proporcional ao tamanho dessa vitória.

A pose fria e robótica, em que tudo parece preparado não o favorece, mas isso não impediu o tal eleitorado flutuante de lhe dar o seu voto, muito também por culpa do (des)Governo cessante.

O país está em crise, mas o novo Primeiro-ministro tem “a faca e o queijo” na mão, não tem desculpas e… não pode falhar.

Percebeu-se nos últimos quatro meses que os portugueses não estão para aturar discursos de “bebés chorões”, que se queixam de tudo e de todos e que passam a vida a sacudir a “água do capote”.

Sócrates não vai ter os 100 dias de “estado de graça” – não há tempo -, tem que formar um Governo credível e começar rapidamente a mostrar serviço.

Quanto à direita, vamos ter dois congressos extraordinários para (em principio) encontrar novas lideranças.

Portas demitiu-se depois de não cumprir nenhum dos (quatro) objectivos a que se propôs. Foi uma atitude digna, nobre e que pareceu sincera. Só exagerou quando disse que Portugal não era um país civilizado por ter dado tantos votos ao BE.

Não sei se o líder “popular” era obrigado a seguir este caminho, mas é uma atitude respeitável. Vamos ver se o PP sobrevive incólume à saída de cena do seu “pai inspirador” ou se, mais cedo ou mais tarde, corre o risco de voltar a ser o partido do “táxi”.

Já Santana Lopes preferiu não clarificar se fica ou sai. O partido teve 28% - um dos piores resultados de sempre – mas o líder, para já, fica e até deve voltar a concorrer no congresso.

Vamos ver se – como já alguém disse – esta atitude do ainda Primeiro-ministro não vai levar a uma cisão do seu partido, transformando Santana Lopes num novo Manuel Monteiro.

À esquerda quase tudo foi perfeito: o Bloco mais do que duplicou o resultado, a CDU até subiu… só faltou evitar a vitória, com maioria absoluta, da “ala direita” do PS.

Após esta campanha sem sal - e que em alguns períodos roçou a mediocridade – há um outro aspecto digno de registo: é certo que a participação eleitoral subiu, mas os votos branco e nulo duplicaram e isso é a prova inequívoca de que os portugueses estão a perder a paciência com estes políticos.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Espelho meu, espelho meu…

“Há algum político em Portugal que eles tratem tão mal como a mim?" – é esta a pergunta que o Primeiro-ministro demissionário e líder do PSD faz a poucos dias das eleições.

O presidente social-democrata escreveu uma carta aos eleitores, especialmente aos abstencionistas, para lhes pedir “o favor” de irem votar – nele subentende-se – continuando a campanha de vitimização.

O homem colocou a casca de “Calimero” e agora já não a tira. Deve ser do frio e da “laranjite” (sic) que apanhou durante a campanha.

Então Santana Lopes anda há semanas a chorar-se e a fazer papel de coitadinho e ninguém o ajuda…

Coitado do senhor que agora não faz mais nada que não seja queixar-se: ele é do Presidente da República, da oposição, dos banqueiros, dos colegas de partido, das empresas de sondagens, da comunicação social… e sabe-se lá mais de quem ou de quê.

Mas alguém ainda cai nestas “estórias”? Já não há pachorra. Então, o homem não tem culpa de nada? E ideias concretas, políticas efectivas para melhorar os problemas graves do país?... nada ou quase nada.

Na carta, Santana escreve ainda: "Você não costuma votar e não é por acaso".

Eu por acaso também acho. Se calhar, não é mesmo por acaso, se calhar também é por culpa de políticas e de políticos como o Dr. Santana Lopes.

O grave… é que os outros quatro “parceiros” de campanha também não são "grande espingarda".

domingo, fevereiro 13, 2005

“Eles falam falam…”

Estamos a uma semana das eleições e, portanto, em plena campanha eleitoral mas a verdade é que “isto” parece tudo uma brincadeira: ninguém discute nada do que é relevante.

O que é que de importante se tem falado nos últimos dias? O que é que o povo eleitor tem aprendido com esta campanha? Que dúvidas tirou?

As respostas são óbvias… e tristes para este país que é o nosso.

Perde-se tempo a discutir boatos, a falar de alegadas apostas de vitória, de pseudo perseguições a partidos, de centros comerciais e falcons…

O Bloco de Esquerda e o PP querem ser o terceiro partido, o PCP só quer manter a votação… O PS “exige” maioria absoluta, o PSD queixa-se de tudo e de todos, mas diz que vai ganhar.

Entretanto, sobre aquilo que realmente interessa às pessoas… (quase) nada: o emprego, a educação, a saúde, a segurança social…

"Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar" - Gaius Julius Caesar (100-44 AC)

segunda-feira, janeiro 24, 2005

Speddy Santana

Como se sabe, a Banda Desenhada não é só para crianças e é engraçado quando pessoas adultas continuam a ler ou a ver desenhos animados.

A nossa pesquisa vai continuar, mas já descobrimos qual é a personagem preferida de Pedro Santana Lopes: nada mais nada menos que o Speddy Gonzalez.

O Primeiro-ministro demissionário aproveitou este domingo para revelar em público essa sua preferência.

Senão repare: aproveitando o facto de estar em pré-campanha eleitoral, perdão, visita oficial ao concelho de Vila Nova de Poiares, Santana Lopes conseguiu em hora e meia (90 minutos) realizar onze (11) inaugurações e assinou sete (7) protocolos.

E ainda por cima – coitado – o nosso Chefe de Governo até estava lesionado numa mão.

Medidas eleitoralistas não, o país é que não pode parar – diz ele. Como é possível alguém pensar isto? – pergunto eu.

Eu cá concordo com o Primeiro-ministro… para mim, das duas uma, isto ou é um vírus como o que ataca o jardim da Madeira ou é, simplesmente, uma homenagem ao Speddy Gonzalez a personagem favorita de Santana Lopes.

Nada mais... Acredita?

domingo, janeiro 16, 2005

Cataventos

Eu cá acho mal que se realizem eleições nesta altura do ano. Não é por nenhuma razão em especial é só porque no Inverno costuma fazer muito vento.

É que a ventania é, seguramente, um dos principais inimigos dos nossos políticos. Eles que andam sempre de cabeça bem levantada e de espinha direita sofrem muito com o vento e, por isso, estão sempre a ser obrigados a mudar de posição.

Só assim se justifica que os principais políticos da nossa praça mudem de posição como quem muda de camisa.

Repare: José Sócrates, líder do PS, disse, ainda no ano passado, que a medida do ministro Bagão Félix de acabar com os benefícios fiscais era um erro e um atentado à classe média. Agora, três meses passados já vem dizer que, se for Governo, vai manter esta proposta.

Na mesma “moeda” responde António Mexia, ministro das Obras Públicas e coordenador do programa do Governo do PSD: Há uns tempos foram feitas fortes críticas ao PS pelas SCUTs, agora, afinal, o regresso das portagens a essas auto-estradas vai ser adiado por quatro anos.

Os exemplos podiam continuar e só apetece perguntar: “Afinal, em que é que ficamos?”. É que as eleições são já no dia 20 de Fevereiro e convinha que os “cataventos” estabilizassem.

Mas de certeza que os políticos não têm culpa… a culpa só pode mesmo ser do vento.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

As 83 mil léguas submarinas

O “bombeiro” do Governo colocou o seu lugar à disposição do Primeiro-ministro. A culpa foi do mergulho.

Assim pensou o senhor ministro de Estado, da Presidência e dos Assuntos Parlamentares: “Qual é o problema de ir para São Tomé e Príncipe de avião particular do Estado, de não dizer nada ao chefe e ir dar uns mergulhos a convite dos amigos são-tomenses no intervalo da entrega das prendas?”

Eu cá acho que não há problema nenhum e até concordo com Morais Sarmento.

Então o homem que passa a vida a safar o Governo não merece um fim-de-semana de descanso no “Bem-Bom” – ou lá como se chama o “resort”? Claro que merece coitado… ainda por cima até estava doente e não pode desfrutar convenientemente da oferta.

O “único” problema em toda esta “estória” mal contada é que foram gastos mais de 83 mil euros do nosso dinheiro para que Morais Sarmento fosse entregar material em segunda mão aos amigos são-tomenses e dar uns mergulhos na praia.

A desculpa foi que não havia ligações em linha regular e era preciso ir lá rapidamente. A questão que se coloca é: Qual é a pressa de levar uns gravadores a São Tomé?

Não se percebe… como não se entende que o ministro não se tenha sabido explicar convenientemente e que o Primeiro-ministro tenha ficado “incomodado” – palavras dele - com esta “estória” e não tenha querido saber logo o que se passou.

sexta-feira, janeiro 07, 2005

2004: O ano de (quase) todos os desafios

No ano de 2004, Portugal esteve no “centro da acção” e por várias razões. Foi um ano intenso, de “sangue, suor e lágrimas”, que rodou muito em torno de dois pólos: o desporto e a política.

Portugal organizou o melhor Europeu de futebol de sempre. Foram três semanas de festa intensa, que só os gregos suplantaram. Nunca se tinha visto o país tão “entregue” a uma selecção e tudo por culpa de um brasileiro que soube despertar a “lusitana paixão” e conquistar o povo.

Os helénicos voltaram a fazer a festa nas Olímpiadas que, com quatro anos de atraso, lá “regressaram a casa”, num Jogos em que o nosso país conseguiu os melhores resultados de sempre, muito à custa do mais português de todos os nigerianos.

O FC Porto pintou de Azul mais um ano e voltou a fazer “estória” com a conquista da SuperLiga, SuperTaça, Taça Intercontinental e Liga dos Campeões. Entretanto, o “apito”… tocou duas vezes.

Na Política, foi a Portugal que os senhores da Europa vieram buscar o primeiro Presidente da Comissão de uma União Europeia, agora alargada a “25”. José Manuel Barroso deixou o Durão em casa e foi para Bruxelas.

O Governo caiu nas mãos de Santana Lopes, mas o Presidente da República “desligou-lhe” a encubadora quatro meses depois.

Portugal está, agora, com uma crise política, um Governo demissionário e eleições (várias) à porta.

Este foi também o ano em que evoluiu o processo Casa Pia – o julgamento já começou – e regrediu o processo de colocação de professores – milhares de erros e aulas com início atrasado.

Tal como nos últimos dois anos, o cumprimento do défice voltou a ser “figura de cartaz”, especialmente no mês de Dezembro: mais umas receitas extraordinárias e... valores abaixo dos 3%.

No Internacional, mantém-se a luta contra o terrorismo em várias partes do mundo, mas continuaram também os atentados (alguns bem perto de nós) que ceifaram (demasiadas) vidas inocentes.

No Médio Oriente, Arafat não resistiu à doença e a três anos de cerco e morreu em Paris. O processo de paz vai agora conhecer novos protagonistas e novos planos.

Contra a vontade do Mundo, George W. Bush foi reeleito pelos norte-americanos. Na Ucrânia nem um envenenamento evitou que Yushchenko ganhasse as eleições.

No Sudão vive-se uma crise humanitária sem precedentes, mas foi uma onda assassina na Ásia que fez despertar as consciências a nível mundial.

Mais de 150 mil pessoas morreram em vários países asiáticos e africanos - e estes números são ainda provisórios. A ONU prevê que esta tenha que ser a sua maior operação de solidariedade de sempre.

Ao contrário do que foi “prometido” este não foi ainda o ano da verdadeira retoma. Como será 2005?