sexta-feira, fevereiro 17, 2006

A invasão

O caso do “envelope 9” teve mais um desenvolvimento surpreendente esta semana.

Três jornalistas do jornal “24 Horas” terão sido constituidos arguidos depois de um juíz de Instrução, um procurador do Departamento de Investigação e Acção Penal e investigadores da Polícia Judiciária terem entrado pela redacção e investigado, em especial, o computador de um jornalista que divulgou as listas com os registos telefónicos do processo Casa Pia.

Acho realmente extraordinário que a Procuradoria se preocupe mais com os jornalistas, que estão simplesmente, a fazer o seu trabalho, do que com a investigação em si.

É fantástico que os jornalistas sejam considerados os maus da fita e o MP, a Procuradoria ou a PJ não consigam evitar as fugas de informação.

Por outro lado, esta invasão pode pôr em causa o trabalho e um jornalista. Sem segurança, nenhuma fonte mais vai “avançar”.

O sigilo profissional é um direito fundamental e não pode ser posto em causa por ninguém, isto se ainda vivermos numa Democracia.

Começo a duvidar...

PS: Fantástica a capa de ontem do “24 horas”, demonstra unidade, solidariedade, convicção, coragem...

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

O negócio do século

Se avançar, a compra do Grupo PT pela Sonae é algo de extraordinário (em vários sentidos) no nosso país.

Belmiro de Azevedo lança-se no "negócio da sua vida" (aquele que poderá ser o último antes de passar a pasta ao filho) e entra para "ganhar à primeira volta".

São mais de 11 (?!) mil milhões de euros que estão envolvidos nesta transação (se for realizada a 100%) e só este número respeitável já assusta.

Mais incrivel ainda é que a Sonae é cinco (5) vezes mais pequena que a PT e, só assim, se percebe a tremenda audácia deste negócio.

É certo que, a apoiar o "senhor Sonae", estão o Banco Santander e, eventualmente, a France Telecom, que terá sido avisada da operação apenas na véspera, mas isso, de maneira nenhuma, tira mérito ao empresário português.

Agora, ao que parece, o processo vai ser longo e pode ter ainda outros personagens (ao que consta estará a ser preparada uma contra-OPA com o BES a liderar e há ainda a Telefónica), mas foi iniciado um caminho que parece não ter retrocesso: a PT vai mudar de mãos.

Vamos ver como tudo vai ficar... vamos especialmente esperar que, fique como fique este negócio, por um lado, a PT melhore os seus serviços e, por outro, a concorrência esteja assegurada.

Achas de uma fogueira

As 12 caricaturas de Maomé publicadas primeiro na Dinamarca e depois em vários jornais europeus continuam a dar que falar.

Manifestações em alguns países (europeus e islâmicos), distúrbios, ameaças de morte, apelos à calma, explicações várias - tudo tem acontecido nas últimas semanas.

Para a religião muçulmana é proibido representar o Profeta e, portanto, estas imagens são consideradas atentatórias, especialmente por parte de grupos radicais.

É certo que para nós, ocidentais, que baseamos a nossa sociedade em direitos como a liberdade, a democracia, a tolerância, a fraternidade, e, já agora, na separação entre o Estado e as Igrejas, parece-nos estranho este fanatismo por culpa de um "turbante bomba", mas o certo é que, talvez por isso mesmo, poderiamos ter algum cuidado.

A liberdade de impresa deve ser assegurada, mas, a repetição destas imagens, ao longo dos últimos meses (tudo começou em Setembro) talvez pudesse ter sido evitada.

Os grupos radicais são isso mesmo, radicais, fanáticos, e, enquanto tal, estão desejosos que o "inimigo" lhes dê uma "desculpa" para actuar.

No fundo, esta insistência não resolveu nenhuma questão e só lançou gasolina para uma lareira que já estava acesa.

A solução só pode passar por grupos de muçulmanos moderados, equilibrados, que, de uma vez por todas, expliquem que o Islão não é "isto"e defende exactamente o contrário (a tolerância e o respeito pelo outro).

PS: só para assinalar - este é o centésimo "tiro" neste blog.

A Palestina e o Hamas

O Hamas venceu as eleições palestinianas e deixou o mundo ocidental em "estado de choque".

Este "grupo terrorista", responsável por muitos dos atentados contra Israel ao longo dos anos, superou, surpreendentemente, a Fatah.

Agora, o processo de paz do Médio Oriente teve um percalço, já que o Hamas não reconhece Israel e estes recusam-se a dialógar enquanto estes não depuserem as armas.

Seguramente as partes vão ter que entender-se, seguramente com os Estados Unidos e a União Europeia pelo meio, e vão ter que recuar...

A Palestina já foi considerada o "primeiro Estado terrorista", dada esta vitória, mas o Hamas continua a chamar terrorista ao Estado de Israel.

O que é certo é que o Hamas tem o apoio do povo palestiniano e, no terreno, esta organização tem um intenso trabalho social de apoio aos mais desfavorecidos, o que, por certo, lhes valeu a vitória.

Em última instância, o facto do Hamas ir liderar o Governo, com ou sem Fatah, pode até acabar por ajudar o processo de paz. Deixando as armas e com as iniciativas sociais no terreno, a Palestina pode avançar.

Vamos ver, por um lado, como Mahmoud Abbas, o líder da Autoridade Palestiniana, gere o processo do novo Executivo e, por outro, como reage Israel à, eventual, democratização do Hamas.

As eleições de Israel estão para breve e não é indiferente saber quem vai ganhar. Olmert e Netanyahu são pessoas bem diferentes.