sexta-feira, outubro 28, 2005

“Alta velocidade”

Não sou técnico, nem conheço os estudos (não sei se alguém conhece) e, portanto, não sei se a Ota ou o TGV são prioridades ou, sequer, se são necessidades do país.

Para já, por aquilo que fui ouvindo, parece-me que há maiores dúvidas em relação ao novo aeroporto: pelo preço, pela localização, pelas perspectivas de desenvolvimento…

É certo que estamos em crise e que estes dois projectos obrigam a grandes (megalómanos?) investimentos públicos.

Mas também é certo que, se não for agora, nunca mais a União Europeia nos ajuda (financeiramente) nestes projectos.

Posto isto, enquanto se espera pelos estudos e pela confirmação oficial, parece que o TGV deverá ser adiado para 2015, ter duas linhas e quatro paragens: Leiria, Coimbra, Ota e Aveiro.

O que acho curioso é que o PSD continue a dizer que este projecto é despesista e megalómano. Talvez tenha razão, a questão que se coloca é que há pouco mais de dois anos (com Durão Barroso como Primeiro-ministro), os social-democratas assinaram com o Governo espanhol, na Figueira da Foz, o seu projecto do TGV que incluía não duas, mas quatro linhas.

A viragem “laranja” é grande e feita, como se percebe, em alta velocidade.

“Choque tecnológico”

Este foi uma das promessas e prioridades do Governo Sócrates e, pelos vistos, está a ser seguida pelos seus ministros.

Alberto Costa, o “senhor da Justiça”, levando as indicações do Chefe de Governo à letra, acaba de contratar (mais) uma assessora, esta, apenas e só, para renovar o site do Ministério.

Ora até aqui tudo bem, a questão é que a senhora em causa vai ganhar uma “pipa” de massa às custas de todos os contribuintes.

Segundo os dados revelados, a nova assessora de Alberto Costa vai auferir uns “míseros” 3254 euros, o que, trocado por escudos, equivale aos antigos 650 contos mensais.

Abençoado site, bendita crise.

domingo, outubro 23, 2005

Acima do nevoeiro

Não houve surpresas e Cavaco Silva confirmou, na quinta-feira, a sua candidatura à Presidência da República.

"Depois de cuidada ponderação, decidi candidatar-me à Presidência da República. Não foi uma decisão fácil. Faço-o por um imperativo de consciência", disse, obviamente, no CCB.

"Eu não me resigno" e "não me conformo com o clima de pessimismo" deste quadro e, por isso, "quero ajudar a construir um novo horizonte de oportunidades", referiu Cavaco.

Ainda bem, digo eu, que não se tomam decisões de ânimo leve e que tudo é feito depois de “cuidada ponderação”.

Apesar de prometer cumprir e fazer cumprir a Constituição (também era melhor que não o dissesse), vários pontos do seu discurso deixam entender uma forte vontade de intervir.

É, aliás, curioso que depois de, na última revisão constitucional, se ter diminuído o poder presidencial, já se fale, agora, exactamente no contrário.

Por outro lado, é incrível como o candidato está a tentar fazer passar a imagem de que não tem nada a ver com o que se passou no país. Até parece que não esteve 10 anos no Governo. Diz ele: “O passado não interessa”.

Qual “Salvador da Pátria”, Cavaco Silva foi seguido em directo pelas televisões, da porta de casa até ao CCB, como se do próprio Chefe de Estado se tratasse.

Convém recordar os mais incautos que o senhor professor ainda não ganhou as eleições e que até o “desejado” D. Sebastião foi derrotado em Alcácer Quibir.

O próprio Cavaco teve, logo no dia a seguir ao anúncio oficial, os primeiros dois deslizes: primeiro disse que “um Presidente (!) não deve reagir ao que diz o Primeiro-ministro” e depois chamou “Assembleia Nacional” à Assembleia da República.

Foram apenas lapsos ou é algo mais?

PS: Quem deve, seguramente, estar feliz são as pastelarias que vendem Bolo-Rei.

quarta-feira, outubro 19, 2005

Separação de poderes…

Aproveitando a Cimeira Ibero-Americana, o Presidente da República falou com o seu homólogo venezuelano sobre o caso do piloto Luís Santos.

Jorge Sampaio terá falado sobre o processo e pedido a Hugo Chavez para interceder junto das autoridades judiciais.

É certo que este caso está “enguiçado”, o julgamento já foi adiado mais de 20 vezes, mas não parece “correcto” (para não dizer pior) que o Chefe de Estado tente meter uma “cunha”.

Numa Democracia, que Portugal e Venezuela dizem ser, seria estranho se tudo se resolvesse com a intervenção de um qualquer Chavez ou Sampaio.

Há – tem que haver – separação de poderes: à Justiça o que é da Justiça, aos Governos o que é dos Governos.

Era dispensável ter que ouvir Hugo Chavez dizer isso mesmo em declarações aos jornalistas e era também escusado termos, depois, sabido que há, cá em Portugal, vários casos iguais, semelhantes ou ainda piores que o do co-piloto da Air Luxor.

É que nós nesta matéria não somos, seguramente, exemplo para ninguém. Já se sabe que a Justiça em Portugal não funciona – e esse é um dos maiores cancros da nossa sociedade – e temos exemplos que davam para preencher uma lista telefónica.

Deixo só o último exemplo: Carlos Silvino vai ter que ser libertado em breve porque já passaram os três anos de prisão preventiva, sem que o processo Casa Pia chegasse ao fim.

Os números não mentem

Portugal é o país da União Europeia onde há mais desigualdade entre ricos e pobres.

As 100 maiores fortunas portuguesas representam 17% do Produto Interno Bruto e 20% dos mais ricos controlam 45,9% do rendimento nacional.

As estatísticas indicam que um em cada cinco portugueses vive no limiar da pobreza.

Esta é mais uma estatística que o nosso país “orgulhosamente” lidera e em que está acompanhado por um “país irmão” – o Brasil – com estatísticas semelhantes na América Latina.

É mais um alerta que fica… Mais uma vez, “vale a pensar nisto”.

segunda-feira, outubro 10, 2005

Chá, café… ou laranjada

O PSD ganhou as eleições autárquicas. É indiscutível, contra “factos não há argumentos”. Há, no entanto, outras notas a realçar.

· Os portugueses foram votar para 308 concelhos e 4260 freguesias e, primeira vitória, a abstenção baixou. Faz-me sempre muita confusão quando o povo desperdiça estas ocasiões para se expressar.

· Os social-democratas reforçaram o número de autarquias “laranja”, beneficiando do habitual “ciclo local” de dois mandatos, do “cartão amarelo esperado a Sócrates e também da política de coligações.

· Marques Mendes merece, no entanto, uma nota à parte: Geriu bem a maioria dos “casos” do seu partido (à excepção de Leiria), preferindo perder Câmaras (como Gondomar e Oeiras), a vergar-se à ditadura do triunfo fácil.

· O PS perdeu muitos votos em relação às legislativas, mas, mais do que isso, perdeu Câmaras (algumas importantes, como Aveiro) em relação a 2001 e não recuperou nenhuma daquelas em que apostava (Lisboa, Porto, Sintra). Curiosamente, apesar disso, teve mais votos e mais percentagem.

· A CDU, de Jerónimo de Sousa, é, talvez, o grande vencedor da noite. Perdeu e ganhou Câmaras, com saldo positivo (tem agora 32, mais quatro) e, mais importante, recuperou a liderança da Junta Metropolitana de Lisboa.

· Ao CDS-PP valeu o perdoado Daniel Campelo, que “regressa” a Ponte de Lima com a bandeira “centrista”. Ribeiro e Castro não é, definitivamente, líder para campanhas…

· O Bloco de Esquerda subiu em relação a 2001, mas esperava-se mais. Não em termos de Câmaras, mas em termos de reforço nos grandes centros urbanos.

· Entre os “candidatos-bandidos” (Francisco Louçã, dixit), a surpresa: Avelino Ferreira Torres não ganhou Amarante, uma boa notícia. Isaltino ganhou em Oeiras e vai ter que se entender com Teresa Zambujo. Já Valentim e Fátima esmagaram. É o país que temos (mau sinal).

· A Madeira continua a ser um Jardim e 11-0 para o PSD.

· Carmona e Rio ganharam Lisboa e Porto como se esperava. Talvez, na “Invicta” se esperasse mais equilíbrio.

· Bom o discurso de Francisco Assis na derrota, miserável o discurso de Carrilho que, para além de continuar a dizer que o seu projecto (!) era o melhor para a cidade, não foi capaz de dizer uma palavra para com o adversário vencedor.

· Soares pai meteu água, outra vez, no dia das eleições e tem, novamente, a CNE à perna. Soares filho sofreu nova derrota e vai ter que ir pregar para outra freguesia.

· Nota final para o estranho problema informático que nos dificultou a vida durante toda a noite eleitoral. A esta hora que escrevo faltam apurar 14 concelhos.

· Resumindo, o país autárquico ficou ainda mais “laranja” e, surpresa, mais “vermelho”, o que quer dizer que o “rosa” ficou esbatido e perdeu à direita e à esquerda.

quinta-feira, outubro 06, 2005

Os graxistas

"Venho cá dar um bocado de graxa aos eleitores" (risos) - a frase é de Ribeiro e Castro, mas podia ter sido feita por qualquer outro líder partidário ou candidato.

Descontando o tom descontraído e brincalhão do desabafo, esta declaração resume aquilo que se tem passado nestas últimas semanas de norte a sul, na luta pelas 308 autarquias do país.

Entre festas e romarias, mercados e arruadas, comícios e debates, ofertas e promessas, todos procuram o voto... dando "graxa aos eleitores".

Autarcas que se recandidatam, políticos que mudam de "equipa", caras novas e os mesmos de sempre, os "filósofos" e os "populistas", os independentes e os arguidos... há de tudo como na farmácia.

No próximo domingo, dia 9, saber-se-á quem se saiu melhor desta palhaçada geral.

O problema é que, logo no dia a seguir, começa outra "corrida" que só termina em Janeiro.

segunda-feira, outubro 03, 2005

Tem cartão?!

Os anos vão passando, os Governos também, mas há “tiques” que continuam inalterados, apesar das constantes promessas.

O PS está no Executivo há seis meses, com maioria absoluta, prometeu reformas, mas continua a cometer alguns dos mesmos erros dos seus antecessores.

Dos vários que já aconteceram destaco agora um que me mete muita impressão: continua a prevalecer o cartão partidário em vez da competência.

Ainda na sexta-feira o Ministério da Cultura trocou as direcções de três institutos, sem mais.

Será que eram todos incompetentes? Quanto vão custar estas trocas?

Isto, claro, já para não falar, por exemplo, da promoção (escandalosa) de Armando Vara na Caixa Geral de Depósitos.

Já não há paciência. Alguém que pare com isto, por favor.

Fim do mundo

Seis pessoas da mesma família morreram devido a um incêndio na barraca em que viviam.

O bairro onde ocorreu mais este acidente trágico é constituído por 180 barracas, tem o nome “sugestivo” de Fim do Mundo e é na zona de Cascais.

As vítimas mortais no incêndio foram uma mulher de 39 anos e os seus cinco filhos: uma jovem de 19 anos, outra jovem de 16, uma menina de 10 anos e dois meninos de 12 e cinco anos.

Depois disto, só me apetece perguntar: Como é possível? Como é que isto pode continuar a acontecer num país dito civilizado em pleno ano 2005?

Um país não pode evoluir enquanto continuar a deixar abandonadas as pessoas que nele vivem.

A culpa é de todos...