segunda-feira, março 26, 2007

salAZAR

Sem surpresa, confirmou-se que António Oliveira Salazar venceu o programa “Os Grandes Portugueses”.

Em primeiro lugar, não deixa de ser irónico que tenha sido um ditador, que impediu eleições livres, prendeu e torturou a oposição, a vencer um simples concurso popular.

Depois, apesar deste ser, apenas, um concurso – e não um referendo nacional – não deixa de ser preocupante que Salazar o tenha vencido.

Não sei se o homem que comandou o país durante quarenta e tal anos teve tantos votos porque há muitos salazaristas, mais ou menos escondidos, no país ou se este foi um mero sinal de protesto, mas, seja como for, deveria ser um alerta para todos.

O facto do desemprego ser crescente e das pessoas estarem furiosas com algumas medidas do Executivo de Sócrates pode ter ajudado Salazar a ganhar; o facto de Cunhal estar na lista pode ter ajudado Salazar a vencer; o facto de nós sermos um país de saudosistas conservadores pode ter ajudado Salazar a vencer.

A única boa notícia da lista final dos “Grandes Portugueses” foi o terceiro lugar de Aristides Sousa Mendes, talvez um dos menos conhecidos e, seguramente, um dos que menos voto militante (e, portanto, algo inquinado) teria.

PS: Como se vê pelos dois últimos posts, "Estou chateado, claro que estou chateado" com algumas coisas, mas há fases assim. Desculpem.

sexta-feira, março 23, 2007

Engolir uns SAP(os)

Eu fui um dos 2573406 eleitores que ajudou a colocar José Sócrates no Governo.

Confesso que, nesse 20 de Fevereiro de 2005, o meu principal impulso era o de impedir que Santana Lopes e Paulo Portas continuassem a (des)governar o país. Aqueles quatro meses de Executivo “santanista” serviram, perfeitamente, para o anedotário do país, mas não, seguramente, para o progresso de Portugal.

Também afirmo aqui, sem hesitar, que não sou propriamente fã de José Sócrates, especialmente porque me faz confusão esta espécie de “terceira via” do novo socialismo em que, ao mesmo tempo, se dá um “doce” à esquerda e dois ou três “bolos” à direita, tudo com a mesma convicção e “cara de pau”.

Passados dois anos, em maioria absoluta, é indiscutível que há muito que discutir e bastante que falar sobre este Governo maioritário.

O ataque a alguns estados corporativos e a algumas benesses instituídas, juntamente com o combate à fraude e evasão fiscais, parecem-me os pontos mais positivos da governação e era bom que esse crivo continuasse apertado.

Agora, há aspectos que não podem ser escamoteados e que fazem parte das principais promessas de Sócrates: o combate ao défice, a criação de emprego e a recuperação económica.

Só o primeiro destes tópicos está a correr dentro do prometido mas, como disse Sampaio em Belém, deve haver mais vida para além do défice.

Como a Terra que gira, a recuperação económica é tão lenta que a subida nem se nota no sítio que interessa que é o bolso dos portugueses.

Quanto ao emprego, é bom nem falar: o PS prometeu mais 150 mil postos de trabalho mas, ao contrário, o que se tem visto é o desemprego a atingir valores recorde e já há quem diga que a marca dos 500 mil desempregados já foi ultrapassada.

E é aqui que, verdadeiramente, a “porca torce o rabo” porque um Governo que se diz socialista não pode nunca fechar os olhos a isto.

É que, sinceramente, estou-me borrifando para o défice abaixo dos 3%, para o simplex e o choque tecnológico, a Ota e o TGV… se isso implicar mais empresas a fechar, pessoas sem médico de família nem SAPs, miúdos sem escola ou ATLs.

Contra tudo e contra todos, incluindo o défice, na saúde, na educação e na segurança social não pode haver cortes…

Chamem-me o que quiserem, mas é tudo uma questão de prioridade.

segunda-feira, março 19, 2007

Deve ser do cansaço (2)

Já tínhamos saudades dele. O “menino guerreiro” voltou a dar-nos alegrias e a relembrar quão fantásticos foram os seus quatro meses de Governo.

No “Dia D”, Santana Lopes voltou a disponibilizar-se para voltar à liderança do seu PPD/PSD, até aí, sem novidade.

Agora, verdadeiramente fantástica é a frase que se segue:

“Desculpe a presunção, tenho passado dois anos a ouvir coisas não propriamente muito agradáveis - e não estou a vitimizar-me - ouvi, aguentei, cai, levantei-me outra vez (com a graça de Deus) e aqui estou a lutar pelas minhas ideias. Agora, tenho direito a lembrar algumas coisas que são verdades elementares: depois de Cavaco Silva, julgo que sou o político com mais obra pelo país todo”.

Hilariante… há coisas “funtásticas”, não há?

sábado, março 17, 2007

Quem te viu... quem tv

A televisão em Portugal fez 50 anos e eu, nos últimos 32, habituei-me a ver bons programas.

Este post poderia ser sobre alguns programas que me marcaram, mas não é, talvez volte ao tema para relembrar situações específicas. Este post é, precisamente, para dizer mal do que se vai fazendo.

E não, não estou a falar dos horários a que passam algumas das (poucas) boas séries que ainda resistem à ditadura das audiências.

Depois do Big Brother, dos Acorrentados, do Bar da TV, da Quinta das Celebridades, do Fiel ou Infiel… de todos esses “reality shows” que nos últimos anos nos têm invadido as casas, eis que, afinal, ainda não se tinha visto tudo.

Eu não sou daqueles que só vê programas “pseudo-intelectuais”, só ouve ópera, lê livros de autores russos, diz que nunca viu novelas e não gosta de futebol… Quem me conhece, sabe que não sou nada assim e, mais do que isso, sou contra qualquer tipo de censura.

Confesso, no entanto, que este último “trunfo” da TVI mete-me nojo e envergonha-me.

Falta-me perceber se “aquilo” é ensaiado ou verídico. É indiferente, seja como for, o programa “A Bela e o Mestre” é ofensivo especialmente para as mulheres e indigno de um país “civilizado” em pleno século XXI.

Falta, agora, perceber se este é o último degrau na escala de má televisão ou se o “grau zero” está ainda mais abaixo.

quinta-feira, março 15, 2007

Deve ser do cansaço (1)

Inauguramos hoje mais uma rubrica. O espaço "Deve ser do cansaço" serve para guardar as últimas "pérolas" dos mais pertinentes personagens da nossa "praça".

Vamos abrir as "hostilidades" com o mais alto magistrado da Nação.

Cavaco Silva esteve num Roteiro para a Ciência dedicado às chamadas tecnologias limpas.

Até aqui tudo bem, nada a opor, tudo a apoiar.

A questão é que, talvez pelo cansaço, o Presidente da República teve uma frase, no mínimo curiosa, sobre o Alentejo e a instalação de ares condicionados.

Sem mais comentários, aqui fica:

"Ainda ontem me foi explicado que é possível construir casas no Alentejo sem ar condicionado (...) é bom que se saiba como se podem ter as casas frescas sem necessidade de ar condicionado que, parece, é uma das fontes muito grandes do consumo de energia", disse Cavaco Silva.

Mas, há casas no Alentejo sem ar condicionado? O quê? O ar condicionado gasta muita energia? A sério?

quinta-feira, março 08, 2007

"Ganda lata"

Quando se pensa que se está numa missão “divina” e que se é “dono e senhor do mundo” perde-se a noção da realidade e cai-se no ridículo.

Os Estados Unidos - que têm todas as condições para ser um país fantástico - deram, ontem, através do seu Departamento de Estado, mais um triste exemplo do que não deve ser uma “potência”.

Desta vez, os norte-americanos criticam as más condições das prisões portuguesas e falam em abusos das forças de segurança portuguesas e excesso de recurso à prisão preventiva.

Obviamente, nem tudo vai bem no sistema prisional português e, seguramente, haverá aspectos a melhorar como, aliás, ciclicamente, reconhece a Amnistia Internacional, por exemplo.

Agora, daí a recebermos lições de moral de um país hipócrita como os Estados Unidos, vai uma enorme distância.

Como é que um país...
· que tem um campo de concentração como Guantanamo,
· que patrocinou Abu Grahib,
· que inventou a guerra no Iraque,
· que tem pena de morte (*)...

... pode vir falar sobre prisões num país como Portugal?

É caso para dizer: “Grande lata, senhor Bush”

(*) Só este ano e só no Texas, os Estados Unidos já “eliminaram” oito condenados, o último dos quais estava há 25 anos no “corredor da morte”.