quarta-feira, junho 29, 2005

2+2=?

Que o país está em crise, já se sabe, que a matemática é um dos graves problemas dos nossos alunos, também não é novidade, que tenha havido Primeiros-ministros que não sabem fazer contas, não é notícia, agora, que um ministro das Finanças e toda a sua equipa se enganem, isso sim, já é uma revelação só ao nível de países “especiais”.

Vem isto a propósito dos “erros”, “trapalhadas”, “discrepâncias” (como quiserem chamar) no Orçamento Rectificativo apresentado por Luís Campos e Cunha…

Depois de muito se ter criticado as contas de Bagão Félix, o novo ministro apresentou na sexta-feira o seu documento. Acontece que, depois das análises dos jornais e da oposição, Campos e Cunha foi obrigado a emendar o OE Rectificativo.

Ora, e feitas as contas, não foi uma simples emenda, foi uma autêntica remodelação. Das 22 alíneas do documento apenas duas ficaram tal e qual.

Entretanto, a oposição não parece nada convencida e fala em diferenças de milhões de euros entre o que consta, agora, do Orçamento Rectificativo Rectificado e o que foi apresentado a Bruxelas.

Pois, e assim vamos andando… para um ministro e toda a sua equipa que eram considerados muito competentes tecnicamente, não há dúvida que Campos e Cunha não teve um bom começo.
Neste cenário não me parece nada despropositada a proposta de Ribeiro e Castro de oferecer ao ministro uma máquina de calcular…

segunda-feira, junho 27, 2005

O sítio em que vivemos…

É por estas e por outras que eu, às vezes, tenho que me beliscar para ter a certeza que vivo mesmo em Portugal e não no Burkina Faso ou em Nauru*.

Acho inacreditável, já para não dizer inadmissível, que aconteçam “certas e determinadas situações” num país “civilizado”, da União Europeia, em pleno século XXI.

Depois de já termos visto postos de electricidade no meio da via pública e campos de futebol cortados por uma estrada, tivemos, esta noite, mais um exemplo que só não é caricato porque teve consequências graves.

Uma pessoa morreu e outra ficou gravemente ferida quando uma avioneta (!) chocou com um automóvel (!) em plena pista do aeródromo de Espinho.

Ao que parece, o facto de uma estrada cruzar o aeródromo já era considerado normal. Segundo testemunhas, só não tinha havido mais acidentes porque, habitualmente, na zona do cruzamento, já as aeronaves costumam ir no ar, passando por baixo dos veículos.

Claro que mudar esta situação nunca deve ter passado pela cabeça dos responsáveis mas, atenção, há um "sinal de STOP para as viaturas, uma vez que há o perigo constante de circulação de aeronaves", diz um senhor do aeródromo.

Como é que é possível?

(*) Não se pretende, de modo nenhum, ofender os países aqui mencionados.

sexta-feira, junho 24, 2005

Serviços máximos, direitos mínimos…

Sinceramente, não sei se os professores têm razão para as greves que fizeram esta semana. Há, no entanto, dois pontos que gostaria de deixar claros.

Em primeiro lugar, tenham ou não tenham razão, defendo que os professores devem cumprir “serviços mínimos”, especialmente se as paralisações afectarem exames nacionais.

No entanto, o que já não me parece bem e, aliás, até me parece perigoso, é que o Governo imponha “serviços mínimos”, que são, na verdade, “serviços máximos” (todos os professores foram chamados às escolas).

A piorar ainda mais esta situação está o facto de, alegadamente, o Executivo ter enviado cartas aos conselhos directivos a pedir os nomes dos “professores faltosos”.

O Primeiro-ministro disse hoje, no debate mensal no Parlamento, que os professores “abandonaram os alunos”.

A confirmar-se a existência da carta e a possibilidade dos docentes serem castigados, este pode ser um grave passo atrás e um perigoso recuo na vida democrática do país.

O direito à greve não pode ser posto em causa.

segunda-feira, junho 20, 2005

A manif que não queria ter visto...

Tinha pensado fazer um “post” sobre a manifestação no Martim Moniz, mas desisti.

Aquelas cerca de 200 pessoas não merecem a minha atenção, até porque eu só costumo falar de coisas sérias.

Aliás, dar-lhes atenção, seria seguramente contraproducente e podia dar-lhes força para continuarem a pressionar e a alastrar as ideias racistas e xenófobas.

Assim, reduzindo àquela insignificância os manifestantes, os portugueses lúcidos deram sinais positivos. Felizmente.

quarta-feira, junho 15, 2005

“Até sempre, camarada”

Esta quarta-feira é dia de luto nacional em homenagem a Álvaro Cunhal, o líder histórico do PCP.

Pode ou não gostar-se de Cunhal, das suas ideias, daquilo que fez ou queria fazer em e por Portugal...

O que, no entanto, me parece indiscutível é que se reconheça que Álvaro Cunhal era e foi sempre coerente com as ideias e convicções que defendeu, nunca vergou, nunca se rendeu, nunca se vendeu…

Há poucos políticos mundiais que possam dizer o mesmo.

É certo, no entanto, que as suas ideias (as do marxismo-leninismo) tinham (têm) aspectos, no mínimo, polémicos e controversos, até de difícil aplicação prática.

Este é um lado da questão… Há, por outro lado, outro aspecto que me merece análise:

Quais são os critérios que fundamentam as propostas para “dia de luto nacional”? Tendo como exemplo os últimos casos, são critérios muito pouco perceptíveis.

Senão vejamos, Cunhal foi homenageado com um dia de luto, Sousa Franco também mas, antigos Primeiros-ministros, como Maria de Lurdes Pintassilgo e Vasco Gonçalves, não tiveram esse direito.

Há coisas que não se percebem…

PS: Milhares de pessoas participaram na última homenagem de Cunhal, muitas delas que nada tinham a ver com o PCP. Isto só prova que o líder comunista, também o escritor e artista, era respeitado.

domingo, junho 12, 2005

Marés vivas…

Depois das novelas, dos jogadores de futebol, dos dentistas e dos cabeleireiros, eis que Portugal volta a importar mais uma moda brasileira: o “arrastão”.

Neste fim-de-semana centenas de jovens, alegadamente vindos das “zonas problema” da área de Lisboa, entraram de rompante em duas praias do país (Carcavelos e Quarteira) para assaltar os banhistas.

Em Carcavelos aconteceu o caso mais grave: cerca de 500 miúdos “atacaram”, a polícia não estava lá, a que chegou, obviamente, não era suficiente…

Acredito que não fosse fácil controlar esta situação, o que questiono é o facto de ninguém ter percebido a “combinação” ou estranhado aquela aglomeração de jovens, alguns deles, seguramente, bem conhecidos das autoridades.

O que é certo é que o país está em crise e estes casos vão continuar. O sentimento de insegurança vai aumentar e, por consequência, a xenofobia também.

Não sei bem como “isto” se resolve, o que sei é que seguramente não é instalando os miúdos na Cova da Moura ou no bairro da Bela Vista que a “coisa” melhora.

É obrigatório fazer um esforço e compreender estas pessoas na sociedade, dar-lhes trabalho, integrá-las… sob pena de a situação se continuar a agravar irremediavelmente.

sexta-feira, junho 10, 2005

Devagar… devagarinho e parados…

Juntando os feriados de 10 e 13 de Junho com o fim-de-semana, milhares de portugueses partiram numas “mini-férias” de quatro dias para o Algarve.

Para esquecer a crise e o défice nada melhor que uns mergulhos nas praias da moda e aparecer na terça-feira com aquele “bronze” de fazer inveja ao colega do lado que – coitado – não foi para Sul descansar.

Em “peregrinação”, todos juntinhos, carros, carrinhas, caravanas… tudo serviu para levar o pai, a mãe, o Joãozinho, a Mariazinha, a avó, o canário e o cãozinho para a praia.

Ora, resultado desta fobia colectiva, quilómetros e quilómetros de fila entupiram o caminho dos Algarves na A2 e suas ligações e acessos.

Deixo aqui dois exemplos elucidativos: à 1 da manhã de sexta-feira havia 15 quilómetros de fila, às 13 horas o “monstro” tinha chegado aos 29 quilómetros.

A “unanimidade” ou, neste caso, a “carneirização” são dois erros em que os portugueses costumam cair e que ultrapassam, em muito, as idas aos magotes para as praias do Algarve.

É pena…

Agora, na próxima terça-feira, os mesmos que foram em fila para o Algarve e, em fila, foram para a praia, voltam à fila do IC-19.

Quando chegarem, atrasados, ao trabalho vão dizer: “Merda, tou cansado, estou mesmo a precisar de férias”.

Como diz um amigo meu: “É bem feito”

A “época dos fogos” e o “país em chamas”

Estes são "clichés" mas, mais uma vez, o país está a arder e, mais uma vez, falham os meios de prevenção e combate aos fogos.

Claro que a seca e o imenso calor agravam a situação, mas é inadmissível que, todos os anos, o cenário negro das terras queimadas se repita em milhares de hectares ao longo do país.

Os Governos mudam, os planos de combate são montados, as apresentações repetem-se, sempre com pompa e circunstância, mas, no fim das contas, o balanço é sempre trágico.

A prevenção, a limpeza das matas, o apetrechamento com novos meios… nada disto é feito a tempo e horas…

Este ano, por exemplo, voltámos à “novela” dos meios aéreos que chegam e não chegam, que estão e não estão, que avariam e não avariam…

Repito aqui o que escrevi em Março quando quatro bombeiros morreram em Mortágua durante o combate a um incêndio:

“É obrigatório responder rapidamente e ajudar quem sofre, mas é também fundamental analisar e prevenir todas as situações antes que elas aconteçam. Num país em que se prefere comprar dois submarinos e não helicópteros e aviões de combate a incêndios, talvez, estivesse na altura de rever prioridades”.

Por outro lado, nós que trabalhamos em comunicação, também não ajudamos muito os bombeiros que fazem – acredito – o melhor que podem e sabem com as condições que têm ao dispor.

Somos nós que falamos em “abertura da época de fogos”, “o maior incêndio de tal sítio”, “todos os incêndios estão circunscritos”… Talvez devêssemos mudar de estratégia.

Já às autoridades pede-se que “ataquem” forte nas investigações, apanhem os incendiários e os punam exemplarmente, com prisão efectiva, ao mesmo tempo que se exige que façam uma campanha de sensibilização para evitar que as pessoas cometam alguns erros perigosas para as florestas.

É preciso fazer tudo o que for possível para combater esta catástrofe cíclica que, todos os anos, abala o país e o deixa em chamas.

segunda-feira, junho 06, 2005

Medalha inquinada

Jorge Sampaio vai agraciar, no próximo dia 10 de Junho, 59 personalidades, na sua última presença no Dia de Portugal como Presidente da República.

Entre os condecorados vai estar, depois de duas recusas, a ex-ministra Leonor Beleza.

A antiga titular da pasta da Saúde vai receber a “Ordem de Cristo” que “distingue serviços prestados ao País no exercício das funções dos cargos que exprimam a actividade dos órgãos de soberania ou na Administração Pública, em geral, e na magistratura e diplomacia, em particular, e que mereçam ser especialmente distinguidos”.

Eu, sinceramente, acho isto “extraordinário”, mas acredito que as famílias dos hemofílicos de Évora achem “ofensivo”, para não dizer "escandaloso".

Como é possível que se homenageie uma senhora que esteve ligada, directa ou indirectamente, a um caso tão dramático e que, ainda hoje, passados tantos anos, não está ainda bem explicado.

Tenho pena que a Dra Leonor Beleza não tenha resistido aos apelos do Chefe de Estado e não tenha recusado, pela terceira vez, esta condecoração.

É necessário ter respeito pelos inocentes que morreram devido ao erro de alguém, alguém que estava ligado ao ministério da Saúde, tutelado na altura por Leonor Beleza.

De recordar que o Supremo Tribunal de Justiça não decidiu que a senhora ministra era inocente da acusação de negligência no caso do sangue contaminado com HIV, mas sim que o processo prescreveu, pelo que não haverá julgamento.

Gostaria só de lembrar que de um total de 135 hemofílicos que acabaram por ser contaminados, metade já morreram. O processo contra Leonor Beleza e a mãe envolvia 35 doentes.

domingo, junho 05, 2005

A Madeira é um Jardim... Zoológico

O português é uma língua rica, mas já não há palavras para qualificar as atitudes de Alberto João Jardim.

O presidente do Governo Regional da Madeira voltou a presentear todos os portugueses com outra “pérola” do mais elevado recorte “literário”.

Comportando-se como um inimputável, Jardim continua a ofender tudo e todos, como bem lhe apetece, e ninguém parece ter mão nele (Presidente da República e presidente do PSD incluídos).

Mais uma vez, as vítimas do senhor da Madeira foram os “jornalistas do Continente” que tiveram o descaramento de falar na sua reforma, que acumula com o salário de governante.

Já muitas vezes os jornalistas foram os alvos de Jardim, mas chamar “bastardos e filhos da puta” a toda uma classe profissional já é ir longe demais.

Quando um governante com responsabilidades públicas tem atitudes destas, de tremenda falta de educação, o que podemos esperar do comum dos mortais?

É urgente que alguém ponha o senhor na ordem, se preciso for o leve à justiça e o obrigue a responder em tribunal por este e outros casos…

Reformados… mas pouco

Mário Lino e Luís Campos e Cunha acumulam, com o ordenado de ministro, pensões “ganhas” em anteriores empregos.

O ministro das Obras Públicas tem duas pensões, uma da segurança social (depois de 37 anos de serviço) e outra do IPE. Já o ministro das Finanças tem uma reforma por ter sido vice-governador do Banco de Portugal durante (6) seis anos (*).

Os senhores governantes defendem-se dizendo que é tudo legal e que são direitos adquiridos legitimamente.

O que eu contesto não é a legalidade, é a moralidade…

Não me parece justo que o Governo diga que o país está em crise, que é preciso fazer sacrifícios e depois haja ministros a acumular dois e três ordenados.

“Ou há moralidade ou comem todos”, já diz o ditado…

Com que cara vai Campos e Cunha aumentar os impostos, dar aumentos de 2% e “apertar o cinto” dos portugueses quando, no fim do mês e, ao mesmo tempo, levar milhares de contos para casa?

Para remediar esta situação, fico à espera que, no mínimo, os senhores abdiquem de um dos ordenados.

PS: Entretanto, ficou também a saber-se que cerca de 80 juizes foram aumentados em 35%. Ora, isto é que é justo quando se sabe que os "bandidos" dos funcionários públicos vão ser aumentados, em média, 2%.

(*) Eu também já estou há seis anos na mesma empresa, será que já me posso reformar com um ordenado chorudo?