quarta-feira, novembro 23, 2005

A verdade da mentira

Apesar de ter um “poeta Alegre” e um “filósofo Sócrates” esta novela é bem triste e reveladora do carácter dos nossos políticos.

Só para que conste estamos a falar de um deputado, vice-presidente da Assembleia da República, e do Primeiro-ministro do país e, que não haja dúvidas, um dos dois “artistas” está a mentir.

Manuel Alegre garante que falou várias vezes com Sócrates para ser o candidato apoiado pelo PS à presidência da República, depois das recusas de Guterres e Vitorino.

O secretário-geral dos socialistas desmente Alegre e diz que só falou com o deputado para este apoiar Soares.

Entretanto, Mário Soares diz que não tem nada a ver com este “imbróglio” e que o “caso” não é com ele, afirmando só que “não é, nem nunca foi traidor”.

Não sei quem tem razão nesta lamentável “estória”, a única certeza é que – como já disse - alguém está a enganar os portugueses e isso é muito grave.

É incrível como três destacados elementos do mesmo partido dão este triste espectáculo que, para além de ser tudo menos dignificante, só dá trunfos ao adversário.

Qualquer pessoa que pense votar em Alegre ou Soares para Belém pode, depois disto, pensar: “Mas se estes gajos mentem uns aos outros e não se entendem, como é que vão servir para a presidência da República?”

Será que Portugal não merece uns políticos melhores?

As perguntas são legítimas e Cavaco Silva já se está a rir.

quarta-feira, novembro 16, 2005

Sobe sobe, desemprego sobe

A taxa de desemprego continua a subir e o Governo, apesar da promessas, pouco ou nada faz para inverter esta tendência.

São já 430 mil as pessoas inscritas nos Centros de Emprego, o que equivale a 7.7% da população activa, o valor mais elevado desde 1998.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística, comparando com o mesmo trimestre de 2004, o número de desempregados cresceu 14,4% entre Julho e Setembro.

Estes são números preocupantes, diria mesmo alarmantes, especialmente se acrescentarmos que uma boa parte destes são jovens licenciados à procura do primeiro emprego.

Estranho mais uma vez que, ao mesmo tempo que se diz que o nosso país tem um atraso na formação, não se aposte, precisamente, em pessoas formadas.

Mais extraordinário ainda é que, agora, oito meses depois de ter tomado posse, o ministro do Trabalho venha dizer que “vai tomar medidas” e que é preciso que “os centros de emprego se aproximem dos desempregados”.

Vieira da Silva acrescenta que “não é o Estado que cria postos de trabalho” (!)

Queria só aproveitar para lembrar uma das promessas de José Sócrates em plena campanha eleitoral: criação de 150 mil empregos e 25 mil estágios para jovens.

Desculpem, devo ter sonhado...

segunda-feira, novembro 14, 2005

Portugal maior

Cavaco Silva entrou este domingo na pré-campanha para as presidenciais de Janeiro e apanhou o primeiro “banho de multidão”.

O candidato abriu hostilidades, obviamente, no “Cavaquistão” (Viseu), “território amigo”, para se ir ambientando à “luta”.

Esta "aparição" é notícia porque foi a primeira e porque Cavaco deve limitar as intervenções ao mínimo e fugir o máximo a debates – truque habitualmente utilizado por quem está na frente das sondagens.

Bom, mas isto são contas de outro rosário…

Este “post” surgiu simplesmente porque me lembrei do slogan de campanha de Cavaco Silva: “Portugal Maior”.

Partindo do princípio que não é uma gralha, confesso que esta frase me faz uma certa confusão (para não dizer outra coisa).

Este slogan remete para o tempo da outra Senhora, as tendências expansionistas do Império, ou, noutro âmbito, o Portugal dos “maiores”, que esquece quem mais necessita.

Posso, obviamente, estar enganado e não ser nada disto que a frase quer dizer ou tem subentendido, mas lá que parece, parece.

Eu, por mim, não quero um Portugal maior, quero um Portugal Melhor, mais solidário, mais eficaz, menos corrupto.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Quanto pior… melhor

Os políticos devem tomar as decisões que acham correctas para o país, muitas vezes, baseadas em estudos, pagos a peso de ouro.

Obviamente que os governantes não são obrigados a seguir os resultados dessas análises. No entanto, no caso de isso não acontecer, tem que haver razões fortes.

O que não deve e não pode acontecer é encomendar estudo atrás de estudo até que este dê o resultado que nós “gostamos”.

É, exactamente, para isso que servem os estudos: para se avaliarem as situações e, depois, deixar aos governantes a decisão final, supostamente a melhor para o país.

Vem isto a propósito de um estudo da Direcção Geral de Saúde, baseado em dados de 2003, que confirma que, salvo raras excepções, os hospitais-empresa são menos eficientes que os outros.

Ora, acontece que, apesar deste resultado, o modelo dos hospitais-empresa é o que também vai ser seguido por este Governo.

O que é incrível é que, sabe-se agora, devido ao resultado “madrasto”, afinal, este estudo não era para revelar… malditos jornalistas.

Pior, descoberta a fuga, o Ministério da Saúde vem desvalorizar e garante que, afinal, o importante será outro estudo encomendado a um economista, que se espera em Dezembro.

Porque raio estamos a insistir numa "fórmula" que, diz a DGS, não é o mais eficaz? Há alguém a ganhar muito com isto, seguramente. Eu cá tenho uma ideia de quem é.

Ficam as perguntas: se este novo estudo tiver a “coragem” de dar um resultado semelhante a este da Direcção Geral de Saúde, o que vai o Ministério fazer? Esconder o documento e encomendar outro? Assobiar para o ar? Mudar de política em relação aos hospitais?

Tem a palavra o ministro Correia de Campos…

domingo, novembro 06, 2005

“Escumalha”

Foi assim que o ministro do Interior qualificou os indivíduos que têm provocado os distúrbios graves em França.

Tudo começou depois da morte de dois jovens que fugiam à polícia e saiu do controlo das autoridades depois do comentário do senhor Nicolas Sarkozy.

Pela 10ª noite consecutiva, em várias cidades francesas, incluindo a capital, centenas de carros têm sido incendiados diariamente e dezenas de pessoas detidas.

Milhares de polícias já estão nas ruas e há quem peça a intervenção do Exército.

Será que a “entrada em cena” do Exército não vai piorar a situação em França? Será que esta crise não pode alastrar a outros países? O que fazer com a maioria destas pessoas que está ilegal e/ou vive em condições sub-humanas?

Entretanto, o Presidente Chirac e o Primeiro-ministro Villepin tentam colocar água na fervura, mas Sarkozy não cede.

Não estará na altura deste ministro colocar o lugar à disposição?

Mão cheia de nada

Como já aqui escrevi, Portugal é o país da UE que tem maior diferença entre ricos e pobres. Para além disso, tem dos mais baixos salários mínimos dos “25”.

Vem este ponto de ordem a propósito da inacreditável e inaceitável reacção do Primeiro-ministro do Governo, dito, socialista à proposta da CGTP que, recorde-se, defende a subida do ordenado mínimo até aos 500 euros em 2010.

José Sócrates considera “absolutamente demagógica e fantasista” esta proposta.

Convém relembrar ao senhor Primeiro-ministro socialista (!) que, actualmente, o salário mínimo são 373.6 euros (menos de 75 contos) e que, a ser aprovada, a proposta da central sindical implicava um aumento de cinco (5) mil escudos anuais.

Não digo que esta medida não implicasse um grande esforço por parte do Estado, concordo que sim, acontece que era apenas necessário mudar as prioridades.

Em vez de se passar a vida a mudar administrações de empresas públicas, a contratar assessores atrás de assessores, a desperdiçar dinheiro com viagens de Falcon ou a comprar submarinos, etc, etc, etc... talvez não fosse má ideia dar dinheiro a quem precisa.

Será que é preciso recordar que há muitas pessoas em Portugal a viver abaixo do limiar da pobreza?

Como o anúncio do hipermercado, apetece perguntar: Como se consegue viver com setenta e poucos meses por mês?

Tenha vergonha senhor Primeiro-ministro.

terça-feira, novembro 01, 2005

A Democracia, segundo Rio Rio

Agora, para se falar com o senhor Presidente da Câmara do Porto, os jornalistas têm novas "directivas".

Numa intervenção sem direito a perguntas, Rui Rio anunciou que a partir de agora só dará entrevistas “por escrito, mediante critérios de oportunidade, com regras previamente definidas, evitando ou minimizando assim interpretações especulativas ou a pura manipulação das respostas".

E porque toma Rio esta atitude?

Porque, segundo o senhor Presidente da Câmara da Invicta, aos "detentores do poder, legitimados pelo voto livre e democrático" compete "procurar evitar distorções e lutar contra a perversidade, principalmente quando ela atinge uma dimensão que põe em causa a saúde do regime e a própria governabilidade do país".

Ora aqui está um “belo” exemplo de Democracia dado por um autarca eleito democraticamente pela maioria absoluta dos portuenses.

Vamos esperar para ver se este é um incidente isolado ou se vêm aí mais atitudes déspotas.

Bem dizia o slogan de campanha: “Este Rio não pode parar”.

Pois é, agora, aturem-no.