segunda-feira, setembro 26, 2005

Contra ventos e marés

Afinal, Manuel Alegre avança mesmo com a candidatura à Presidência da República.

Continuo a achar que o deputado-poeta faz bem em "ir a jogo", por todas as razões e mais uma: tinha sido o primeiro a mostrar disponibilidade, tinha até recebido o apoio de Mário Soares e ficava-lhe, agora, mal desistir em nome da "unidade da esquerda" ou da "não divisão do PS".

Manuel Alegre é conhecido pela sua coragem política, por dizer e fazer sempre aquilo que pensa, por estar muitas vezes contra a corrente, mesmo contra o seu próprio partido (vide o processo da co-incineração de Sócrates) e este recuo na corrida a Belém não encaixava no perfil.

Não sei porque teve esta hesitação entre o primeiro discurso e o avanço confirmado no sábado, ou melhor dizendo, não sei porque, afinal, decidiu mesmo avançar.

Talvez porque esperava uma "vaga de fundo", talvez porque não gostou de algumas reacções internas ou talvez porque algumas sondagens "dizem" que, só com Alegre na corrida, Cavaco não terá maioria absoluta à primeira volta. Talvez...

Tinha ficado desiludido com a primeira decisão de Alegre. Estou, por isso, agora, contente com a segunda.

Como já disse e repito: tem o meu voto na primeira volta.

domingo, setembro 25, 2005

Locomotiva engasgada

Faz hoje uma semana que a Alemanha foi a votos, mas ainda não se sabe quem (e como) vai constituir o Governo.

A votação foi apertada e aconteceu aquilo que menos interessava na perspectiva alemã e, até, de toda a Europa.

É certo que Portugal não é exemplo para ninguém, mas a verdade é que, em Democracia, o nosso país já teve quatro tipos de Governos: maioria absoluta de um só partido, maioria absoluta de dois partidos da mesma área, coligações “contra-natura” e maiorias simples de um só partido.

Apesar das diferenças, fomos sempre sendo governados e o país (mais ou menos devagar e especialmente com a ajuda da União Europeia) foi sempre evoluindo.

A Alemanha – motor da Europa – habituado a viver com maiorias, parece indeciso sobre o que fazer.

A CDU, de centro direita, foi o partido mais votado mas o bloco de esquerda, liderado pelo SPD, tem a maioria.

Agora quer Angela Merkel e Gerhard Schroeder querem ser Chanceler e o entendimento não parece fácil.

Não parece possível um Executivo de “bloco central” e já foi dito pelos pequenos partidos de lado a lado que não se vão coligar com os grandes para fazer coligações de conveniência…

Já há quem defenda a repetição das eleições ou, talvez, uma votação a dois entre o partido da senhora Merkel e do senhor Schroeder.

Não sei como isto se vai resolver, o certo é que é, no mínimo, estranho que um país “civilizado” não consiga encontrar um Primeiro-ministro depois de eleições democráticas.

A Europa dos “25” aguarda ansiosa, quase desesperadamente, que a sua locomotiva volte a entrar nos carris e a puxar as carruagens…

Marchar… marchar

Os militares são uma categoria profissional especial que tem, por isso, direitos e deveres especiais.

Serve esta introdução para que eu diga, desde já, que sou contra a existência de sindicatos nas Forças Armadas.

É certo que o Governo mexeu nas regalias que estes profissionais tinham há muitos anos e que, obviamente, por isso, estes têm demonstrado o seu desagrado.

Agora, daí a manifestarem-se fardados ou até, quem sabe, partirem para a greve, vai uma grande distância.

Como disse, os militares não são uns “simples” funcionários públicos e, sendo assim, defendo que algumas regalias têm que ter (seguramente bons salários, boas condições de assistência e, eventualmente, menos anos de serviço), não posso é defender que venham para a rua chorar-se por tudo e por nada.

O exemplo dado pelas mulheres dos militares, para além da prova de amor entre cônjuges, é um pouco patético porque, se a moda pega, numa situação de guerra, os homens militares podem, de repente, dizer: “Ó Maria, ‘tou chateado com isto, vai lá tu dar uns tirinhos”.

As Forças Armadas são um pilar da Democracia e com isso não se brinca... Ainda não estamos num qualquer país africano que, de golpe de Estado em golpe de Estado, vai mudando de Governo e regime ao sabor do vento.

O (bom) exemplo do 25 de Abril vai ser difícil de repetir.

sábado, setembro 24, 2005

David e Golias

Muito se tem falado disto desde que o novo Governo tomou posse: medicamentos, genéricos, preços.

A polémica começou há cerca de seis meses, no discurso de tomada de posse de José Sócrates, e ainda não desapareceu das "primeiras páginas" da actualidade.

A questão geral já teve vários pontos de análise, que têm dado “pano para mangas” (especialmente a questão dos medicamentos – quais, porquê e como – a vender fora das farmácias), mas agora o último “tópico” de discussão tem a ver com o preço.

O ministro da Saúde prometeu que, a partir de Outubro, os medicamentos iriam descer 6%, enquanto os genéricos vão subir 4% (porque o Executivo termina com o subsídio aos mesmos). Obviamente que a Associação Nacional de Farmácias já veio queixar-se e, mais do que isso, acusar o Governo de estar a mentir.

Não vou aqui, até porque não tenho todos os dados, avaliar quem tem razão. Há, no entanto, algumas questões que me preocupam…

Em primeiro lugar, parece-me positivo (essencial até) que se baixem os preços dos medicamentos. O país tem dos preços mais altos da Europa e isso não é nada compatível com o nosso poder de compra.

Em segundo lugar, os genéricos são uma boa ideia, sendo mais baratos, desde que, obviamente, seja garantida a qualidade.

O que me parece um contra-senso é que haja genéricos de marca. Convém não esquecer que o que diferencia os medicamentos dos genéricos e faz descer o preço é a não existência de marca.

Por outro lado, há uma acusação que convinha esclarecer: consta que as farmácias e os laboratórios compraram todos os stocks para continuarem a negociar com os preços antigos.

Vamos ver o que vai acontecer quando terminar o período de “duplo preço”. Vamos ver quem tem mais força: o Governo ou a ANF.

quarta-feira, setembro 21, 2005

(In)Justiça

Por favor, alguém que me explique a decisão da senhora juíza que hoje libertou Fátima Felgueiras!?

Como é possível que uma senhora fuja do país, goze com todos os portugueses durante mais de dois anos e depois, quando volta, ainda seja recompensada com o desagravamento da pena a que estava sujeita?

A ex-autarca fugiu para o Brasil depois de lhe ter sido instaurada a pena de prisão preventiva no caso do “saco azul” e, agora, fica apenas com “termo de identidade e residência” e "impedimento de se ausentar de Portugal" (!).

Confesso que não sei se Fátima Felgueiras é ou não culpada no caso em que é arguida…

O que sei é que não acatou a decisão de um tribunal e fugiu, o que não é nada bom sinal. Tal como a mulher de César não basta ser séria é preciso também parecer.

Depois dos antecedentes, agora que a candidata à autarquia está outra vez em liberdade, gostava de saber se a senhora juíza dorme descansada sabendo que Fátima Felgueiras se pode pôr outra vez ao fresco a qualquer momento.

E, já agora, outra dúvida: será que os nossos impostos vão servir para colocar polícias à porta da senhora, 24 horas por dia?

domingo, setembro 18, 2005

País de “doutores”

Portugal é mesmo um país extraordinário: consegue ter mais vagas do que candidatos ao Ensino Superior.

Para o ano lectivo 2005/2006 o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior disponibilizou 46399 vagas, a que concorreram 38976 candidatos, 86% dos quais conseguiu já uma vaga.

Entretanto, os 5456 alunos que não tiveram nota para entrar poderão ainda candidatar-se à segunda fase do concurso na qual estão ainda disponíveis 12898 vagas.

É caso para dizer que o país está em crise, mas não é por falta de “doutores”. Toda a gente entra na Universidade, todos querem o canudo… o pior é depois.

A maior parte dos cursos não tem saídas profissionais compatíveis, as pessoas vão fazer coisas para as quais não estão bem preparadas ou que não gostam.

O que também acontece é que, como estão todos na Universidade, ninguém faz os trabalhos “intermédios”ou (considerados) “menores” e é aí que entram os imigrantes que, apesar de serem qualificados, só têm entrada nos trabalhos que os portugueses recusam.

O que era preciso era que houvesse um estudo sério, em larga escala, para se perceber o que realmente o país necessita para avançar e, depois, direccionar os alunos para essas áreas, seja com cursos universitários, simplesmente com cursos profissionalizantes ou com “reformulações”.

Vá lá que, agora, o Ministério do Ensino Superior faz, pelo menos, uma exigência: só entram alunos com média positiva.

É o mínimo.

sábado, setembro 17, 2005

Cheira mal… cheira a Lisboa

A pré-campanha para a Câmara de Lisboa tem já várias “pérolas”, para mais tarde recordar.

O último caso é, obviamente, o debate televisivo entre Carrilho e Carmona que, depois de trocas de insultos constantes e poucas ideias concretas, terminou com o candidato do PS a recusar o cumprimento do seu opositor.

Foi uma atitude “fina” e “civilizada” entre dois cavalheiros.

Aliás, Manuel Maria, o filósofo-candidato, já nos tinha brindado com mais uma ideia emblemática: o teatro de revista devia acabar porque é só “para uma minoria”... Nada elitista o senhor.

“Fina” é igualmente a candidata apoiada pelo CDS-PP que, preocupada com “as senhoras que andam de salto alto nas ruas de Lisboa”, defende o fim da “calçada portuguesa”.

Diz Maria José Nogueira Pinto que se devia adoptar para Portugal o sistema de Madrid: passeios em cimento.

Pois, eu cá também acho.

Já agora, de Espanha podíamos importar também os salários, o preço dos combustíveis, o desporto e os seus resultados, as “paellas”, as touradas de morte e, porque não… os candidatos e os políticos.

Há coisas que continuam a surpreender-me: ver a candidata da direita contestar uma tradição portuguesa como a nossa calçada é tão estranho como, um destes dias, ver o Bloco de Esquerda defender a criminalização das drogas leves.

PS: Só para que conste: Eu não voto em Lisboa… felizmente.

domingo, setembro 11, 2005

Santana, o Humilde…

Com a chegada de Setembro, regressaram algumas “personagens” que são fundamentais para a nossa sanidade mental. Neste post destaco duas que são, em certo sentido, irmãos siameses: o “menino guerreiro” Santana e o fiel “escudeiro” Luís Delgado.

O ex-presidente da Câmara de Lisboa e futuro “novo” deputado continua igual a si próprio.

Primeiro, na semana de todas as inaugurações voltou a meter água com a Feira Popular, depois ainda tentou arranjar um “pseudo-tabu” ao ser confrontado com a necessidade de decidir entre a autarquia até Outubro ou o Parlamento por mais três anos. Como se não soubéssemos…

No comentário a mais esta alteração na vida de Santana, o impagável Delgado não foi de modas: esta é uma atitude de “grande humildade”, pode ser muito boa para ele e, quem sabe, o ex-autarca até pode – como aconteceu com o amigo Paulo Portas – ganhar o prémio de “deputado do ano”.

Isto é que são amigos…

quarta-feira, setembro 07, 2005

Sem mais comentários…

A poucos dias da cimeira das Nações Unidas, em Nova Iorque, o relatório sobre o Desenvolvimento Humano em 2005 confirma o fosso entre países ricos e pobres.

Por exemplo:

As quinhentas pessoas mais ricas do mundo têm tanto dinheiro como os 416 milhões mais pobres;

Por cada dólar que os países ricos concedem em ajuda, correspondem dez gastos em despesas militares; sete mil milhões de dólares por ano seriam suficientes para, em dez anos, abastecer de água limpa 2,6 mil milhões de pessoas (mais do que isto gastam, anualmente, os europeus em perfumes e os americanos em cirurgias estéticas);

Morrem mil e duzentas crianças por hora, devido à pobreza.

Vale mesmo a pena pensar nisto… Quando será que os “senhores do mundo” vão acordar?

sábado, setembro 03, 2005

E tudo o vento levou…

O furacão “Katrina” entrou nos Estados Unidos sem pedir licença e, quase, varreu New Orleans do mapa.

A capital do Jazz foi apenas um dos locais atingidos, mas a cidade ficou completamente destruída e com 80% da sua superfície submersa.

O número de vítimas é, a esta hora, desconhecido mas as autoridades já falam na hipótese de haver milhares de mortos.

A juntar aos que não resistiram directamente a este fenómeno da natureza, que chegou a atingir o “grau cinco” (máximo), há ainda que os que ainda vão morrer de doença, ferimentos, fome ou sede.

É que há milhares de pessoas sem água, comida, tecto, luz, à mercê de bandidos e saqueadores.

Há habitantes a roubar para sobreviver e há tresloucados nas ruas que disparam contra tudo o que lhes aparece pela frente (sejam helicópteros de ajuda ou pessoas a sair dos hospitais).

Os apelos desesperados do presidente da Câmara de New Orleans e de um grupo de senadores negros foram arrepiantes, as imagens das populações foram de uma violência atroz.

Já a completa inacção do Governo Federal é revoltante e obscena. George W. Bush só ao quinto dia se dignou ir às áreas mais atingidas para dizer umas baboseiras.

Em mais um dia louco com declarações fortíssimas, alguém colocou os pontos nos “ii”: “As pessoas que faleceram nesta tragédia, morreram porque eram pobres, não porque eram brancos ou negros”.

“Tenho vergonha do meu país, tenho vergonha deste Governo”, dizia uma Senadora emocionada perante a tragédia.

Como é possível que o líder do país mais rico do mundo deixa que tudo isto aconteça no seu próprio território sem reagir?!

Como é possível que o senhor Bush, a primeira vez que falou aos norte-americanos, se tenha preocupado apenas com a gasolina e o petróleo?!

Como é possível que o presidente do “dono do mundo” tenha dito que esta “tragédia vai ser boa porque as pessoas afectadas vão ter casas novas”?!

Como é possível que na véspera da chegado do “Katrina”, as pessoas tenham sido alertadas para sair da cidade, mas não lhes tenham sido dadas mais indicações?!

Como é possível que não se tenha prevenido um eventual desvio de trajectória, que veio a acontecer?!

Como é possível que Bush não se demita?!

Como é possível…

sexta-feira, setembro 02, 2005

“Nim”

“Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não” - diz o poema, mas não foi isso que se passou...

Nos primeiros 9 minutos e 45 segundos da declaração que fez no “Forno da Mimi”, em Viseu, tudo parecia indicar que Manuel Alegre ia avançar.

O discurso foi fantástico, com os argumentos certos, bem escrito, bem lido, “contra tudo e contra todos”, contra “ventos e marés”, contra amigos de sempre e adversários de estimação.

No fim, os últimos 15 segundos, Alegre estragou tudo: “Não concordo com a outra candidatura mas, para não ser acusado da derrota, para não dividir a esquerda, deixo-me ficar como estou”.

É verdade que não tinha o apoio do partido e não ia ganhar as eleições, mas as convicções e a determinação de Alegre seriam importantes nesta campanha.

Assim, acobardou-se, rendeu-se e disse “nim” com sabor a “não”.

Manuel Alegre falhou ao não avançar com a candidatura a Belém e desiludiu-me. Já perdeu um voto...

Agora, para os portugueses, a escolha de Janeiro vai ser entre o voto branco e a dupla “Bucha e Estica”.