domingo, setembro 23, 2007

Bem amado

Confesso que não gosto de me confessar.

Sou tímido, calado, habitualmente reservado, gosto pouco de falar de mim e estou mais habituado a ouvir os outros.

Os meus pais queixam-se que é dificil arrancar-me alguma novidade e os meus amigos já se queixaram do mesmo.

Aliás, há uma expressão que uso algumas vezes na brincadeira que se aplica na perfeição: "Nem às paredes confesso, muito menos a estas que se ouve tudo".

São feitios, respondo. E, estou certo, a culpa nem é dos padres.

Não sei de onde me veio esta "característica", mas dei por mim a pensar nisso depois de ouvir uma conversa e sou capaz de avançar uma razão.

A culpa é, seguramente, de uma novela brasileira, daquelas já bem antigas, do tempo em que o país parava para as ver.

Voltanto atrás no tempo: No "Bem Amado" havia um autarca corrupto que tinha como objectivo principal inaugurar o cemitério que mandou construir. O homem tudo fez para que alguém morresse e, assim, fosse possível estrear a sua obra (até contratou um "matador", um tal Zeca Diabo, que ainda hoje recordo como uma das grandes personagens de Lima Duarte).

Mas a questão é que o homem - o tal "perfeito" da cidade - tinha outra "característica": para melhor controlar os seus eleitores, mandou instalar um microfone no confessionário,

Desde esse momento, nunca mais fui o mesmo. Fiquei traumatizado.

Ainda voltei ao confessionário mais duas ou três vezes, mas - confesso-o aqui - nunca mais disse tudo ao senhor padre.

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