segunda-feira, fevereiro 21, 2005

“Carta branca”

Os portugueses, fartos do “menino-guerreiro” e da crise, arriscaram tudo e passaram um "cheque em branco" a José Sócrates.

Mas o que é que o líder do PS fez para merecer o que Mário Soares e António Guterres sempre quiseram e nunca conseguiram?

De recordar que Sócrates alcançou 45.05%, 2573311 votos e 120 deputados na Assembleia da República (quando ainda faltam apurar os quatro da emigração).

A resposta é simples: nada (ou quase nada).

Tem no currículo a presença nos “governos Guterres” e, da sua participação, saltam à vista três tópicos: a co-incineração (que agora pode ser “repescada”), a despenalização do consumo de droga e a candidatura (ganhadora) à organização do Euro 2004. Está, agora, há poucos meses na liderança do partido e fez uma campanha na defensiva, sem se comprometer.

O que é certo é que Sócrates teve uma vitória inquestionável e histórica. A responsabilidade que tem agora sobre os ombros é proporcional ao tamanho dessa vitória.

A pose fria e robótica, em que tudo parece preparado não o favorece, mas isso não impediu o tal eleitorado flutuante de lhe dar o seu voto, muito também por culpa do (des)Governo cessante.

O país está em crise, mas o novo Primeiro-ministro tem “a faca e o queijo” na mão, não tem desculpas e… não pode falhar.

Percebeu-se nos últimos quatro meses que os portugueses não estão para aturar discursos de “bebés chorões”, que se queixam de tudo e de todos e que passam a vida a sacudir a “água do capote”.

Sócrates não vai ter os 100 dias de “estado de graça” – não há tempo -, tem que formar um Governo credível e começar rapidamente a mostrar serviço.

Quanto à direita, vamos ter dois congressos extraordinários para (em principio) encontrar novas lideranças.

Portas demitiu-se depois de não cumprir nenhum dos (quatro) objectivos a que se propôs. Foi uma atitude digna, nobre e que pareceu sincera. Só exagerou quando disse que Portugal não era um país civilizado por ter dado tantos votos ao BE.

Não sei se o líder “popular” era obrigado a seguir este caminho, mas é uma atitude respeitável. Vamos ver se o PP sobrevive incólume à saída de cena do seu “pai inspirador” ou se, mais cedo ou mais tarde, corre o risco de voltar a ser o partido do “táxi”.

Já Santana Lopes preferiu não clarificar se fica ou sai. O partido teve 28% - um dos piores resultados de sempre – mas o líder, para já, fica e até deve voltar a concorrer no congresso.

Vamos ver se – como já alguém disse – esta atitude do ainda Primeiro-ministro não vai levar a uma cisão do seu partido, transformando Santana Lopes num novo Manuel Monteiro.

À esquerda quase tudo foi perfeito: o Bloco mais do que duplicou o resultado, a CDU até subiu… só faltou evitar a vitória, com maioria absoluta, da “ala direita” do PS.

Após esta campanha sem sal - e que em alguns períodos roçou a mediocridade – há um outro aspecto digno de registo: é certo que a participação eleitoral subiu, mas os votos branco e nulo duplicaram e isso é a prova inequívoca de que os portugueses estão a perder a paciência com estes políticos.

quarta-feira, fevereiro 16, 2005

Espelho meu, espelho meu…

“Há algum político em Portugal que eles tratem tão mal como a mim?" – é esta a pergunta que o Primeiro-ministro demissionário e líder do PSD faz a poucos dias das eleições.

O presidente social-democrata escreveu uma carta aos eleitores, especialmente aos abstencionistas, para lhes pedir “o favor” de irem votar – nele subentende-se – continuando a campanha de vitimização.

O homem colocou a casca de “Calimero” e agora já não a tira. Deve ser do frio e da “laranjite” (sic) que apanhou durante a campanha.

Então Santana Lopes anda há semanas a chorar-se e a fazer papel de coitadinho e ninguém o ajuda…

Coitado do senhor que agora não faz mais nada que não seja queixar-se: ele é do Presidente da República, da oposição, dos banqueiros, dos colegas de partido, das empresas de sondagens, da comunicação social… e sabe-se lá mais de quem ou de quê.

Mas alguém ainda cai nestas “estórias”? Já não há pachorra. Então, o homem não tem culpa de nada? E ideias concretas, políticas efectivas para melhorar os problemas graves do país?... nada ou quase nada.

Na carta, Santana escreve ainda: "Você não costuma votar e não é por acaso".

Eu por acaso também acho. Se calhar, não é mesmo por acaso, se calhar também é por culpa de políticas e de políticos como o Dr. Santana Lopes.

O grave… é que os outros quatro “parceiros” de campanha também não são "grande espingarda".

domingo, fevereiro 13, 2005

“Eles falam falam…”

Estamos a uma semana das eleições e, portanto, em plena campanha eleitoral mas a verdade é que “isto” parece tudo uma brincadeira: ninguém discute nada do que é relevante.

O que é que de importante se tem falado nos últimos dias? O que é que o povo eleitor tem aprendido com esta campanha? Que dúvidas tirou?

As respostas são óbvias… e tristes para este país que é o nosso.

Perde-se tempo a discutir boatos, a falar de alegadas apostas de vitória, de pseudo perseguições a partidos, de centros comerciais e falcons…

O Bloco de Esquerda e o PP querem ser o terceiro partido, o PCP só quer manter a votação… O PS “exige” maioria absoluta, o PSD queixa-se de tudo e de todos, mas diz que vai ganhar.

Entretanto, sobre aquilo que realmente interessa às pessoas… (quase) nada: o emprego, a educação, a saúde, a segurança social…

"Há nos confins da Ibéria um povo que nem se governa nem se deixa governar" - Gaius Julius Caesar (100-44 AC)