domingo, fevereiro 01, 2004

“Sorriso de morte”

Nestes dias muitas coisas foram notícia: greves, Ministérios que não entregam o dinheiro dos impostos, cortes na ADSE, explosões no Iraque, relatórios polémicos, robôs que chegam a Marte, gripes nas aves...

Tudo isto aconteceu, tudo isto mereceu destaque, mas nada marcou tanto como a morte do jogador Miklos Fehér.

No dia em que passa uma semana de tão trágico acontecimento apetece-me falar disso... desabafar, para tentar ultrapassar “isto” que sinto e continuar em frente...

Há amigos meus que me dizem: “Não sei porque é que estás assim!”. Eu, se calhar, também não sei...

O que é certo é que eu vi – milhares de pessoas viram na altura e milhões viram em todo o mundo depois - um jovem morrer, à minha frente, em directo, na televisão, depois de, segundos antes, ter sorrido.E é isso que, ainda hoje, me perturba... O Fehér morreu a defender o seu clube, no campo de jogo, e a sorrir... a sorrir.

Admito que o facto do Miki ser jogador de futebol – um desporto que adoro – e de defender o Benfica – o meu clube do coração – pode ter potenciado a minha reacção, mas o facto é que, fosse quem fosse, numa situação semelhante, essa morte me perturbaria.

É que, independentemente das proporções que o caso tomou por ser um jogador de futebol, de ser do Benfica e da morte ter ocorrido em directo, o certo é que o rapaz, desportista saudável, sem história clínica, morreu de repente, frente a milhares de pessoas.

Eu sei que, infelizmente, morrem centenas de pessoas por dia de que nós nem ouvimos falar, mas este caso foi diferente... foi em directo.

Aquele “sorriso de morte”, aquela queda já inanimado, aqueles minutos angustiantes dentro do campo, aquelas horas até à confirmação oficial da morte, deviam perturbar e ser um alerta para qualquer um. E isso nada tem a ver com o facto de se gostar ou não de futebol, de se ser ou não do Benfica.

Aliás, a onda de solidariedade que se espalhou pelo país e que atingiu todas as franjas da sociedade é bem prova disso...Esperemos é que esta tragédia consiga trazer algo de bom e sirva para que as pessoas - todas as pessoas - percebam o essencial e deixem o acessório. No futebol e na vida do dia a dia.

Adeus Miki, até sempre, um abraço.

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