segunda-feira, dezembro 27, 2004

(In)Félix Natal

Tenho uma dúvida: estamos na época do Natal ou no Carnaval?

É certo que temos a maior árvore de Natal da Europa no nosso país e até já houve troca de presentes e mensagens natalícias, mas a mim ninguém me tira da ideia de que estamos no Carnaval.

É que só no Carnaval é que se goza com as pessoas e fica tudo bem, porque, afinal, “é Carnaval ninguém leva a mal”.

Desta vez, o “desfile” ocorreu na quinta-feira.

O ministro das Finanças veio divulgar, à terceira tentativa, a solução para o défice 2004: vão ser transferidos do Fundo de Pensões da Caixa Geral de Depósitos mi milhões de euros para que Portugal possa, pelo terceiro ano consecutivo, ser “bom aluno” e cumprir o Pacto de Estabilidade e Crescimento e ter um défice abaixo dos 3%.

Ora, logo aqui, há duas questões a considerar: primeiro, o ministro Bagão Félix tinha referido que não gostaria de utilizar receitas extraordinárias para conseguir cumprir o défice (o estratagema da sua antecessora) e, segundo, tinha prometido à Caixa que não ia mexer no seu fundo de pensões.

É curioso (para não dizer outra coisa) como se muda de opinião em questões tão sérias com uma facilidade destas, ainda para mais quando o chamado “plano B” falhou – segundo o ministro – também por culpa da mesma CGD.

O que é mais grave é que este novo “passe de mágica” não resolve nada de fundamental e nós, daqui a um ano, cá estaremos a discutir o que vender para voltar a cumprir este pacto “estúpido” (Romano Prodi).

Depois, só no Carnaval é que era possível um ministro ter a lata de anunciar um aumento de salário mínimo de 2.49% (abaixo do intervalo mínimo admitido pelo próprio Executivo) e continuar tudo como se nada fosse.

É que, caso não tenham reparado, este “aumento” é o mais baixo de sempre e segue-se a dois anos de “aumento 0”. Para além disso, este “aumento” surge depois do Primeiro-ministro (agora demissionário) ter anunciado no mês passado aos portugueses “o fim da austeridade”.

Por acaso nota-se: são mais 30 cêntimos (60$) o que não dá nem para um café.

Poucas vozes se levantaram nesta quinta-feira louca porque estavam todos muito preocupados com a questão “fundamental” do défice… sim, porque o facto de haver portugueses a ganhar menos de 80 contos por mês não é nada importante.

É Carnaval… (quase) ninguém leva a mal. (In)Félix Natal.

PS: Já agora, queria só lamentar que o senhor Primeiro-ministro demissionário tenha usado a sua mensagem de Natal para continuar a campanha de vitimização - qual "Calimero" - e deixar novas farpas ao Presidente da República.

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